O Enem continua provocando polêmica, ora pela metodologia adotada, ora pelas dúvidas...
O Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) continua provocando polêmica, ora pela metodologia adotada, ora pelas dúvidas quanto ao sigilo que deveria garantir seriedade, ora pelo desinteresse de muitos alunos em prestá-lo, ora ainda pela validade de seu modus operandi. Casualmente, encontrei, no Facebook, postagem de crítica feita pelo conceituado jornalista, ligado à revista Veja, Reinaldo Azevedo, sobre a proposta de redação do Enem 2012: “Movimento imigratório para o Brasil no século XXI.” Assim começa o jornalista no enunciado/títul “O tema estúpido da redação do Enem, as mentiras do examinador e as duas exigências absurdas feitas aos estudantes. Ou: Intelectualmente falando, prova de redação deveria ser impugnada!” Dois comentários de Reinaldo Azevedo são bem pertinentes e com eles concordo de forma total: O primeiro diz respeito a exigir que o aluno fale sobre o movimento imigratório no século XXI, que mal começa. Que se colocasse “no início do século XXI”, pois o dito século ainda não terminou para que dele se faça a análise em questão. O segundo se refere à “intervenção” - em relação à proposta - que o aluno deve emitir, em face dos direitos humanos. Ora, como alerta o jornalista: o aluno deve defender, por exemplo, que os haitianos e outros estrangeiros que entram ilegalmente no Brasil sejam devolvidos ao país de origem? Ou deve defender que o Brasil acolha tantos quantos para aqui venham em busca de condições de vida mais dignas? Se um ou outro posicionamento não estiver de acordo com o pensamento do examinador, qual será a consequência para o aluno? Nosso ministro da Educação, Mercadante, defendeu a validade da proposta de redação. Questiono-lhe a defesa, pela péssima impressão que me ficou ao ouvi-lo, nos recentes programas eleitorais – várias, e várias, e várias vezes - ferir-nos os ouvidos com a emissão da palavra “gratuito”, assinalando o í, como se se tratasse de um hiato e não de um ditong gratuíto. Pensando em tudo isso e em mais nos tropeços dos caminhos educacionais brasileiros, lembrei-me de Rubem Alves, em recente visita a Uberaba, comentando sobre os “burocratas de Brasília”, no meu entender, aqueles que, na Educação, como tenho dito, talvez nunca tenham sido professores, diretores, pedagogos, portanto alheios ao que ocorre no dia a dia das escolas, de seus profissionais e dos alunos, com suas necessidades e anseios idealistas. Defendo sempre que os professores de redação devemos trabalhar com os alunos de tal forma que os atos da leitura e da escrita lhes proporcionem o prazer de ler e de escrever, e não constituindo “martírio”. E eles só se sentirão bem escrevendo sobre aquilo que dominam, com tranquilidade e sendo respeitados pelas ideias emitidas, com a possibilidade de questionamentos, diálogo e troca de opinião com o professor. Agora, usar proposta / “pega”, como se viu no Enem 2012, quando tantos assuntos interessantes estão em evidência, aí é outra história. Infelizmente!