O terror no Haiti. O estrondo no Haiti. O pesadelo que, em minutos, explodiu pedras, casas, edifícios, vidas e esperança
O terror no Haiti. O estrondo no Haiti. O pesadelo que, em minutos, explodiu pedras, casas, edifícios, vidas e esperança.
Um minuto antes, tudo em seu devido lugar: casas que amanheceram casas, árvores que amanheceram árvores, gente que amanheceu gente, andando, trabalhando, sorrindo, vivendo a vida, quase sempre difícil, num país lambuzado de pobreza, aquela pobreza arrastada anos a fio, mas vivendo a vida, na expectativa de que um dia as coisas melhorassem.
Um minuto depois, estilhaços de uma cidade estilhaçando vidas, o peso do cimento armado sepultando o futuro.
O horror congelado nos olhos das pessoas. Os gritos congelados nas gargantas das pessoas. Apenas as lágrimas derretidas, como se o fogo da tristeza e do medo as fizesse jorrar nas expressões dos que nada entendiam. O horror congelado em todos os cantos do planeta, como se a distância não existisse e as cenas de desespero e medo acontecessem em nossas cidades, em nossas ruas. E o mundo de braços atados, na proximidade virtual do trágico espetáculo, mas na enormidade de distância no espaço engolido pelo medo.
Como explicar o inexplicável? Como compreender o incompreensível?
Em meio ao caos, a figura gigante de Zilda Arns, a mulher forte que, na Pastoral da Criança, por meio de métodos simples de higiene e alimentação, como a multimistura, ou no ensinamento do soro caseiro, fez diminuir a mortalidade infantil, não apenas no Brasil, mas no mundo todo.
E fico pensando como o ser humano, plasmado por tanta fragilidade, pode, como no caso de Zilda Arns, transformar-se, com a força de seus ideais e da fé, numa figura gigante, que atrás de si arrasta seguidores também abraçados por um ideal maior.
Fico pensando nos tantos membros da força tarefa do Brasil no Haiti que morreram no cumprimento de sua heróica missão, e nos tantos outros que, agigantando-se, salvaram vidas, movidos pela força do dever e também da fé, nem sempre segurando a emoção nos inusitados momentos de tensão e medo.
A Igreja, onde Zilda Arns concluiu sua última missão, sucumbiu à força do terremoto. Ela se foi. Mas parecendo um recado de Deus, em meio aos escombros da Igreja, a grande cruz, com o Cristo crucificado, permanece intacta, em direção aos céus: com os braços abertos, cabeça pendida, talvez Cristo quisesse dizer aos haitianos que, naquele momento, ele se sentia novamente crucificado, partilhando com aquela gente sofredora o seu sacrifício maior.
(*) educadora do Colégio Nossa Senhora das Graças e membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro