“... sinto as raízes suspensas, / presas
“... sinto as raízes suspensas, / presas na insólita amplidão do espaço.”
Muitas vezes o ser humano procura a solidão. Solidão assumida. Como se as raízes de sua vida buscassem o espaço e não o chão.
E tal sentimento não se liga à presença de parentes ou amigos: há momentos em que o que preenche a alma são os vazios existenciais.
Vazios salutares, muitas vezes, pela impressão de leveza que as raízes suspensas provocam. Como se fosse uma isenção de tudo, uma liberdade de nada querer, nada ansiar, a nada ligar-se. Um descompromisso existencial. A vida tornando-se de tal forma bem mais tranquila pelo conseguir ficar, ainda que momentaneamente, além e aquém dela: no equilíbrio da linha mediana, do zero grau. Nem pra lá, nem pra cá. Na impressão de uma libertação total de tudo aquilo que prende, que limita, que estorva o caminhar, pois é momento de nada querer, de nada ansiar, de nada sonhar, de nada lamentar.
Apenas leveza. Descanso para a alma. Na abstração de tudo, no afastamento de problemas, de angústias, de decepções, de preocupações com o hoje ou o amanhã. Uma pausa, talvez, para os embates da jornada. Como se fosse necessário permitir um ilhamento benéfico, não da matéria, do espaço ou do tempo. Ilhamento interior, com barreiras internas que não permitissem a ninguém chegar ou aproximar-se. Haveria falas não ouvidas. Passos não percebidos. Toques não sentidos. Os sentidos sem conexão. Fios desligados, como que para conserto da mente e dos sentimentos. Ou conservação.
Um desligamento opcional. Um fechar-se no próprio mundo talvez para recarregar as energias interiores. E, assim, estar apto para o enfrentamento existencial, em suas pelejas cotidianas de acertos e desacertos, de contradições ininteligíveis, de enganos e desenganos.
Assim a vida: um oceano de tantas sensações e sentimentos embaralhados, em procelas que se repetem como as próprias ondas, ora mansas, ora irrequietas, o que faz com que o ser humano anseie e usufrua da solidão assumida: ao invés de fraqueza, o fortalecimento para novas vivências, ou vivências antigas.
“... sinto as raízes suspensas, / presas na insólita amplidão do espaço”; o imenso espaço de nossas almas pode ser preenchido de vazios benéficos, em determinadas situações alimentos que fortalecem o ser em suas novas investidas e sustentação na trilha da existência.E na trilha da paz.
(*) Educadora do Colégio Nossa Senhora das Graças e membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro