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Quem viver verá!

João Eurípedes Sabino
Publicado em 15/09/2022 às 19:24Atualizado em 18/12/2022 às 08:28
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Lembro-me dele nos anos de 1966/1968, sempre ágil com sua perua Kombi Volkswagen (branca e creme), adentrando-se ao pátio do Posto Zote, às margens da Rodovia BR-050. Consta que, como contabilista, ele prestava alguns trabalhos pontuais a Zote. Refiro-me ao defensor da tese de captarmos água no rio Grande, João Pedro de Sousa, que não dispensava o paletó estando no inverno ou verão. Tinha trato afável, atencioso e gostava de uma conversa amistosa, já que sabia granjear amigos.

O tempo passou e eis que, na campanha para a eleição de prefeito e vereadores em Uberaba no final de 1972, vejo na tela preto e branco da TV Uberaba, ele, João Pedro de Sousa. Candidato a prefeito, meu xará trazia consigo um marcante diferencial: Usando uma varinha (possivelmente um galho de jabuticabeira ou goiabeira), João mostrava no mapa, como se estivesse vendo, o desabastecimento hidráulico que 50 anos depois teríamos que amargar. Dificuldade? Não era com ele. Previu, inclusive, que certa indústria se instalaria aqui e traria lama de minério através de tubulações, passando por vales e montes. Essa seria a então Valefertil, depois Fosfertil, etc., e hoje Mosaic Fertilizantes.

Num dos auditórios da amada Escola de Engenharia do Triângulo Mineiro (eu estava presente), João Pedro de Sousa fez extensa palestra sobre a transposição da água que iria matar a nossa sede no século XXI. Adivinhem se alguns engraçadinhos fizeram chacotas e perguntas absurdas, tentando ridicularizar o homem que via além do seu tempo. Ele, com a humildade própria dos maiores, sentenciava: “Quem viver verá!”.

Entre os tais engraçadinhos estavam dois que, depois de formados, galgaram altos postos na autarquia fornecedora das nossas águas. Coisas do destino? Essa resposta eu tenho, mas a reservo comigo.

Não vitorioso na campanha à Prefeitura de Uberaba, João Pedro de Sousa seguiu emplacando aqui e ali a sua tese, que hoje é defendida por mestres e doutores. A transposição do Rio São Francisco desbancou as oposições frágeis e os nossos dias estão contados para termos a Estação de Captação João Pedro de Sousa (sugestão), se formos sensatos para reconhecer o seu valor e homenageá-lo. Não há quem possa mudar a verdadeira história. Tive a tristeza de estar no momento em que o corpo do nosso Homem das Águas era baixado à sepultura no Cemitério São João Batista em Uberaba. Guardei para mim a lição de que morremos, mas as nossas boas ideias são imperecíveis.

Ver Jornal da Manhã, edição n.º 15.631-15/09/2022.

 

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