Só é feliz aquele que se apaixona. Ninguém pode viver sem uma grande paixão
Só é feliz aquele que se apaixona. Ninguém pode viver sem uma grande paixão. Nada de importante se faz na vida sem essa força interior, sem esse “élan” que dá sentido à nossa vida. Ou somos apaixonados ou apenas vegetamos apáticos e corroídos pela mesmice da vida de todos os dias. Alguém me diz: “Minha tristeza é não saber o que vou fazer hoje”. Se você pensa assim, você já está morto e ainda não sabe.
Uso o termo “paixão” no seu sentido mais amplo. Não é apenas uma afetividade. Se você é homem, sua paixão pode ser sua companheira. Se você é mulher, pode ser seu companheiro. Se você é pai ou mãe, pode ser sua família, seus filhos, seus netos. Pode ser um amigo que o compreende, que o perdoa e o abraça com um afeto que o reanima. Mas o significado de paixão é bem mais abrangente. Pode ser também sua vocação, pode ser um projeto a realizar, uma pesquisa, sua profissão, a música, a poesia, a partilha do pão com o próximo. Grande parte das pessoas passa pelo mundo sem deixar sinal. Simplesmente passa. Não amaram ninguém. Não se apaixonaram por coisa nenhuma. Viveram apenas de impulsos instintivos. Não deixaram marcas na vida de ninguém.
O mundo, as nações, as grandes e pequenas comunidades são ou foram marcados por mulheres ou homens apaixonados. Alteraram os rumos da vida. São os chamados “pontos de virada” (turning points), provocaram uma virada. Depois deles o mundo não foi o mesmo. O livro “Os Cem Homens que marcaram a Humanidade” leva-nos a essas reflexões. Não vou incluir Jesus de Nazaré entre os “cem”, seria um despropósito. Este é fora de concurso.
Não há como compreender Francisco de Assis sem aquela doação total aos pobrezinhos de Deus, os amados de Jesus. Como entender o “Cântico das Criaturas”, desvinculando-o de uma grande paixão? Como entender a vida trágica a que foram levados Heloisa e Abelardo sem sua paixão pela filosofia? Como entender Mahatma Gandhi consumido pela paixão de libertar seu povo da exploração colonial inglesa? Como entender Galileu Galilei, Madame Curie, Charles Darwin independentemente de sua paixão pela Ciência? Como entender a fogueira a que foi condenado Savonarola porque apontava a imoralidade do papa Alexandre VI? Como não admirar a coragem desse grupo de teólogos condenados pela Cúria Romana porque tentam uma reforma de paradigma na disciplina e nos dogmas da Igreja? Conhecemos tanta gente em nossos dias que nos deixa a marca de sua paixão por um Projeto de Vida, como Tereza de Calcutá, Zilda Arns, Schweitzer, médico e teólogo protestante e tantos outros das mais diversas religiões e mesmo de pessoas sem nenhuma religião, como Che Guevara, muito embora discordemos de sua ideologia política. Como não considerar e admirar o trabalho gratuito de tantas pessoas que, voluntariamente, se dedicam ao trabalho junto aos doentes e aos pobres? Todas elas, podemos ter certeza, não entraram em depressão nem se queixaram de que a vida não tem sentido.
Afinal de contas, aqui entre nós, bem no fundo de nossa consciência, qual tem sido a nossa grande paixão?