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Problema da fome

Dom Paulo Mendes Peixoto
Publicado em 23/07/2021 às 18:20Atualizado em 19/12/2022 às 02:43
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A fome engloba também a sede, como condições essenciais para a existência da vida. Podemos fazer a pergunta sobre que tipo de fome e de sede deve ser pensado. Ninguém, normalmente, vive sem comida e bebida, mesmo sabendo existir muita gente que não tem condição adequada para uma sobrevivência sadia. Falta alimento por faltar partilha. Falta água porque foi transformada em comércio.

O Evangelho fala da partilha de pães e peixes (Jo 6,1-15). Eles eram poucos para tanta gente, mas foram distribuídos de forma equitativa entre as muitas pessoas num mesmo instante, quando todos os presentes conseguiram comer o quanto era necessário e ainda sobrou. Na verdade, quando existe partilha, sempre sobra, mas se o domínio é do egoísmo acumulador, sempre falta.

A providência divina é sempre milagrosa quando os critérios empregados são de partilha. O Brasil é um dos países privilegiados, porque tem muito espaço e muita terra altamente fértil. O país é um dos maiores produtores de grãos do mundo. Infelizmente, o número de pessoas que passam fome é muito grande, porque o destino da produção não favorece as necessidades do povo brasileiro.

Podemos pensar também sobre a água potável. É outro importante privilégio do Brasil, porque o volume de água potável é muito expressivo. Mas caminhamos para uma situação preocupante para os grandes aglomerados urbanos. Os reservatórios diminuem, porque não existe uma política de conservação das nascentes. O que ainda resta vai sendo contaminado por uma gestão sem critérios.

O futuro da humanidade depende de alimento e água pura. Futuro não muito promissor se não for feito algo de concreto em relação às políticas públicas voltadas para a prática da partilha e da responsabilidade no lidar com a natureza. A ânsia por lucro imediato praticado pelas grandes e poderosas empresas causa desastres inconsequentes e desconectados com o futuro da humanidade.

O impasse envolvente é como alimentar tantas pessoas sem o que comer, porque não bastam as partilhas esporádicas em tempo de pandemia. A organização da sociedade tem que ser diferente, mas isto supõe uma firme e capacitada atuação governamental, justa e sincera, que consiga diminuir o exagerado fosso que existe entre a classe acumuladora, ultrarrica e a extrema pobreza da maioria.

Dom Paulo Mendes Peixoto

Arcebispo de Uberaba

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