Penso nos seres humanos lá fora. Nas ruas. Nos bares
Penso nos seres humanos lá fora. Nas ruas. Nos bares. Nas casas. Cada qual um universo. Cada qual com seu mundo interior de forças e fragilidades. Equilibrando-se entre o fácil e o difícil, entre as conquistas, ora sem dificuldades, ora na peleja, desbravando arestas. Muitos, talvez a maioria, sós. Precisando reinventar, em si e nos outros, o espírito da fraternidade, hoje tão distante dos corações humanos.
Custa aceitar que o homem, muitas vezes, seja “um lobo para o outro homem”. Aceitar e acreditar que haja tantos se comprazendo com a desgraça do outro. O sucesso do outro sendo causa de tristeza para alguns.
Nisso reside a mesquinhez da pessoa invejosa. Ela não quer imitar a bem sucedida, tentando conquistar seu próprio espaço. O que ela quer é tomar o espaço alheio e, não o conseguindo, destruí-lo.
Seria bem mais fácil e racional a convivência humana centrada na fraternidade. No respeito à fraternidade. Por isso, o peso do mandament “Amar o próximo como a si mesmo.” Eu sou eu, o outro é o outro, próximo coisa nenhuma. Próximo apenas em relação à contiguidade: está perto no espaço e no tempo, mas não na esfera fraterna de interesses mútuos, de envolvimento com as situações tanto de prazer, como de dificuldades.
Talvez pela dinâmica da vida atual, ou pela atração irresistível da TV, das redes sociais e de outras solicitações modernas, o ser esteja cada vez mais isolado em si mesmo, com isso isolando os que o rodeiam. O que cada um conhece do “amigo”, normalmente, são aspectos externos: compleição física, preferências superficiais, hábitos mais comuns, visíveis na obviedade do dia a dia. Mas aquilo que o configura internamente, envolvendo também suas dificuldades e premências, em geral permanece escondid o homem cria um paredão entre si e o outro, no medo talvez de que a proximidade, não apenas desvele o amigo, mas coloque as próprias fragilidades à mostra.
Os motivos para tudo isso são evidentes: de um lado, muitos sentem necessidade de vestir a máscara, tornando-se assim, na aparência, aquilo que os de fora gostariam que fossem. Há, pois, uma quase despersonificação, com modos de ser diferentes, interna e externamente. De outro lado, a insegurança conduz as pessoas a, como forma de defesa, esquivar-se dos semelhantes, para não comprometer a própria imagem.
São bastante intrincados os labirintos do pensamento humano, com suas possibilidades e angústias, estas, tantas vezes, plantadas no faz-de-conta, no impalpável.
É preciso que o ser humano consiga explorar seu potencial de fraternidade, no desvelamento de irradiações positivas e na urgente correção de distorções interiores, e até externas, para que cada vez mais se estreite o liame com o outro, no verdadeiro espírito cristão.
(*) Educadora do Colégio Nossa Senhora das Graças e membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro thuebmenezes@hotmail.com