Por que o Lula chorou?

Tenho pensado muito em 1950. Em nossa casa, estávamos todos ao redor do rádio à espera da apoteose final. Campeões do mundo! Sete a um nos branquelões da Suécia, seis a um nos toureiros da Espanha, ouvindo a marcha do Braguinha: “Eu conheci uma espanhola natural de Catalunha, tocava castanholas e pegava um touro à unha.” Agora seria a vez dos uruguaios. Coitados, estavam empatando com todo o mundo. Primeiro tempo, um a zero para o Brasil. Obdúlio Varela comandava. Veio o empate. Logo depois estava o Barbosa entregando o ouro para o Giggia. Todos choram.

O Brasil chora. Parecia tudo tão fácil...

Sessenta anos depois, numa pesquisa nacional da Datafolha, 60% dos brasileiros se manifestam contra  uma nova Copa no Brasil, contra o uso do dinheiro de impostos para realizar essa Copa. A reforma dos estágios ficaria em quase 16 bilhões de reais. É sabido que ficaria em muito mais. Aqui no Brasil, todo mundo sabe, os projetos ficam sempre muito aquém da realidade. Esses 16 milhões se tornariam 30 ou mais.  As grandes empreiteiras estão de olhos vidrados nesse queijo imenso colocado ao seu alcance.

Todos nós vimos nosso Presidente chorar copiosamente ao ser anunciado o nome do Brasil como sede na Copa de 2014. Será que ele pensou bem no quanto seria gasto para realizar festa tão badalada?  Construção de novos estádios, de vários aeroportos?  Melhorias no sistema de comunicação? Construção de acomodações adequadas? Novas condições de segurança?

Já sofremos uma vez com esse tipo de ufanismo que não leva a nada.  É importante tomar consciência de que há exigências prioritárias para se preocupar. Futebol não é prioritário. Apesar do oba-oba que é cantado nas esferas presidenciais, todo o mundo sabe o que é mais importante e urgente. Ainda não resolvemos nossos problemas de segurança, nossos problemas de moradia, de educação, de saúde, do desmatamento, da reforma tributária, da reforma agrária, do desemprego, da superpopulação das grandes cidades, dos aeroportos, dos transportes, do sistema carcerário, da irresponsabilidade dos políticos, do comércio das drogas e muita coisa mais.        

Diante de tudo isto, por que nosso querido Presidente chorou tanto? Estaria ele pensando nessas contradições? Será que depois da Copa (não sabemos se vamos ganhar), o povo vai viver melhor? Será que haverá melhor educação? Mais saúde? Mais empregos?  Menos miséria? Menos crimes? Menos assaltos? Mais paz?

Nosso Presidente, ninguém nega que seja superinteligente, talvez tenha pensado em tudo isso. Por isso chorou. Estamos chorando com ele.

(*) thprata@terra.com.br