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Política autêntica

A filosofia existencialista de Martin Heidegger (mesmo não se considerando um existencialista)

Savio Gonçalves dos Santos
Publicado em 31/12/2011 às 19:39Atualizado em 17/12/2022 às 07:39
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A filosofia existencialista de Martin Heidegger (mesmo não se considerando um existencialista), calcada na busca pelo ser-aí (dasein), pode apontar boas reflexões acerca da política. Mesmo que para alguns, a dinâmica instaurada pelo pensador alemão se remonte à busca essencial pelo ser do humano e, com isso, o fator fenomenológico (estudo dos fenômenos da consciência em si mesmos) acaba sobrelevado em detrimento de outras dimensões, pautar a reflexão acerca da política pelo viés fenomenológico, levanta possibilidade de mudança. Para exemplificar a fenomenologia, pode-se dizer que ela representa a capacidade do humano em encontrar as respostas para as suas dúvidas em si mesmo, numa espécie de introspecção.

Entretanto, ao se perguntar para boa parte da população qual o conceito de política, se verá uma gama de respostas que convergem para o mesmo sentid corrupção! O senso comum ainda não consegue se livrar das garras de políticos ignorantes (no sentido de gnose, ou outros sentidos...) que tratam política como o meio para o alcance de benefícios pessoais, ou familiares. A política em si, oriunda da determinação comportamental da sociedade grega, significa muito mais que simplesmente (apesar de não tão simples) corrupção; política é a prática social do bem comum. É colocar-se a serviço em favor do coletivo social, onde a vontade geral deve ser considerada anterior à vontade pessoal.

Mas voltando ao existencialismo, a política tratada de maneira fenomenológica aponta dois caminhos para a prática: a inautenticidade e a autenticidade. Primeiramente, a política inautêntica é esta que vemos cotidianamente; é a política da inversão do estado em particular; do pessoal ao invés do coletivo; do bem particular em detrimento do social; é a política das compensações, das mentiras e do pão... É a política do ontem, da imposição, da democracia camuflada, da subversão legal pela sobrevivência. A forma criada pelos políticos inautênticos é a mais comum e a mais “benéfica”! É ela que possibilita a formação de bandos, de corjas e de medíocres; que ajuda a criar uma “plantação” de laranjas; que deturpa os valores e princípios em prol de algo ainda maior (?). O pior é observar como, a cada dia, mais e mais pessoas se tornam políticos inautênticos. A inautenticidade é o espaço da desilusão, irracionalidade, da imoralidade; é o espaço da frieza, do egoísmo e da sobrevivência... É ela que faz com que todos os brasileiros se sintam mais frustrados com o futuro do país.

É chegada a hora de renovar. A racionalidade não mais aceita a imposição de um sistema que camufla a verdade, que distorce a realidade. A política precisa de políticos autênticos, que se preocupem com o social, com a realidade local e com o povo; uma política que deixe de somente pensar e agir atrás de votos, e de mandatos, e passe a praticar sua função. Os governos precisam deixar de lado a mesquinhez dos projetos e planos de governo (que na prática nada mais são do que planos partidários para a reeleição), e passar a criar planos de estado, planos sociais a médio e longo prazo. Política autêntica é aquela que se destaca em meio à podridão em que se vive; é o zelar pela vida, se preocupar com o bem estar do povo; é governar pelo, para e com o povo; é entender que o dinheiro arrecadado com impostos, impostos, impostos e taxas, não são para a reforma das casas, troca de carros, pagamentos de assessores fantasmas, mas sim para a garantia dos direitos fundamentais de todos os humanos.

(*) Mestre em Filosofia, membro da comissão de avaliadores do MEC e professor universitário

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