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Pergunta de criança

Ana Salvador
Publicado em 03/11/2021 às 18:26Atualizado em 19/12/2022 às 01:17
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Há eventos fundamentais na vida que a dividem em “antes” e “depois”. Como quando alguém morre, por exemplo. Nos primeiros tempos após o “depois”, andamos com umas lentes imaginárias que filtram tudo o que vemos no mundo. Passamos pelo primeiro Natal, o primeiro aniversário, a primeira formatura, todos os “primeiros” com aquela sensação de “agora isso é assim. Ele(ela) nunca terá visto isso.”

Nascimentos têm esse efeito também, porém por outro lado. Poucas coisas nos modificarão mais do que trazer uma vida ao mundo, cuidar dos seus primeiros anos, apresentar-lhe a Terra. O que envolve responder às muitas dúvidas que a curiosidade infantil traz.

Perguntas de crianças são, com alguma frequência, desconcertantes e, como tal, fazem-nos questionar, de fato, nossas crenças. O que realmente sabemos? E o que se diz ao filho de cinco anos que pergunta “o que é ‘morrer’?”

Tecnicamente, como adultos, compreendemos a mecânica do acontecimento, deixando os detalhes para profissionais que estudam o momento exato. Não é o caso de tentar explicar a uma criança que um coração pode estar batendo, mas se o cérebro não dá certos sinais, podem-se iniciar procedimentos para a doação de órgãos. Nada disso, vamos ao básico.

Como explicar a morte sem passar ideias aterradoras de solidão, abandono, esquecimento e finitude? A inocência do inquiridor trouxe a resposta. Que universo uma criança compreende?

Morrer é como nascer.

Um bebê, na barriga da mãe, está muito confortável, num ambiente conhecido e seguro. Pode não ser tudo uma maravilha (imagino que deva se sentir algo apertado), mas ele domina os mecanismos para sobreviver e, até onde é capaz de identificar, não há motivos para mudar.

Entretanto, chega um momento em que aquele mundo não é mais suficiente; é preciso evoluir. Sem saber o que o espera, o bebê é lançado numa situação nova e vai ter que aprender a caminhar nessa nova realidade.

A vida cá fora traz infinitas possibilidades de amor, felicidade, dor e sofrimento. Aqui há luz, ar livre e o céu infinito. Até que é necessário, uma vez mais, passar à próxima etapa e seguir evoluindo. Deixar o conforto do conhecido e lançar-se, outra vez, com confiança no amor do Pai, e descobrir que realidade incalculável nos encantará.

Ana Maria Leal Salvador Vilanova

Engenheira civil, cinéfila, ailurófila e adepta da caminhada nórdica [email protected]

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