Penso nas mães. Em todas as mães. Sem dia específico, que todos os dias pertencem às mães. Mães do trabalho, mães do estudo, mães já adultas, tantas outras adolescentes
Penso nas mães. Em todas as mães. Sem dia específico, que todos os dias pertencem às mães. Mães do trabalho, mães do estudo, mães já adultas, tantas outras adolescentes. Mães responsáveis, mães sem compromisso, mães felizes e amadas, mães infelizes e desprezadas.
São faces de todas as mulheres que têm a coragem de aceitar o profundo mistério da maternidade.
Penso na mãe que recebe as manhãs com o sol que lhe torna radioso o rosto, iluminado pela luz do sorriso do filho, braços entreabertos, moldados para o abraço. Mãe que se sabe completa na vida que nada lhe nega, na fartura de ver crescer saudável o ente gerado.
Penso na mãe tornada mãe pelo amor do ser amado, vendo na figura do filho a continuidade daquele de quem também recebeu a vida: o mesmo jeito de andar, o sorriso, modelando, da mesma forma os lábios, o olhar, o mesmo olhar distante ou incisivo, as ideias repetidas, e frases, e conceitos e exemplos.
Penso na mãe ausente pela necessidade, o contato com o filho por bilhetes deixados na mesa, ou pela voz ao telefone, com casa de almoço a sós, tarefas da escola a sós, entretenimentos a sós, solidão a sós, sofrida na alma da mãe pela impossibilidade de estar perto do filho, na premência do pão de cada dia.
Penso na mãe ao mesmo tempo pai, acumulando pesadas obrigações, na solidão de decisões que precisam sempre ser tomadas, na solidão da responsabilidade que não tem partilha, na solidão e no medo de errar, e deixar passar despercebidas medidas que não poderiam ser adiadas.
Penso na mãe enclausurada pela doença do filho, dela fazendo a própria doença, outras vezes assumindo coragem leonina para tentar vencer os males que afligem sua cria.
Penso na mãe, ainda menina, feita de uma gravidez antes do tempo, brincando de boneca viva, o choro, muitas vezes, misturado ao choro do recém-nascido, no espanto de ter nas mãos, ainda tão infantis, uma vida que precisa ser regada pela segurança que ela não tem nem para si própria.
Penso na mãe miserável, naquela cuja pobreza extrema impeliu para atos extremos: o recém-nascido abandonado na lata de lixo, debaixo das marquises, no mato, ao relent a vida miserável a faz vomitar, em dobro, os percalços sofridos, no limite da razão e da demência.
Penso na mãe talhada na coragem, nos desafios, na pertinácia em busca de objetivos, na preocupação constante com o filho amado, sabendo mostrar força, quando os tentáculos do desânimo a fragilizam; ânimo, quando a vontade se enovela pelo cansaço e pela descrença: é preciso animar o filho.
Penso nas mães velhinhas, esquecidas nos asilos, desertificadas pelo desamor dos seres que elas geraram no amor, esperando, talvez, o momento derradeiro na tristeza do abandono.
Penso nas mães que tiveram que partir antes da hora, talvez em outras paragens, ainda cantando uma canção de ninar na alma dos filhos aqui deixados.
Pensando nas mães, penso em Maria: tão casta, tão doce, tão discreta, mas tão fiel, tão decidida, tão corajosa no enfrentamento do maior sacrifício da humanidade: era um Deus, seu Filho, que se colocava em holocausto, por amor aos homens. E cumpria a ela assistir a tudo isso.
Pensando nas mães, penso em você, minha mãe, Zulmira Correa Hueb, que, mesmo tendo partido, ainda é estrela a iluminar, no acalanto de sua voz, a vida de seus filhos.
(*) educadora do Colégio Nossa Senhora das Graças e membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro