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Pensar dói

Savio Gonçalves dos Santos
Publicado em 24/10/2011 às 20:59Atualizado em 19/12/2022 às 21:43
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Inevitável perceber de que no humano, a capacidade racional surge como um diferencial a ser ovacionado. A prática reflexiva possibilita, para além do que é óbvio, o cógito, a existência de maneira autêntica, como dissera Martin Heidegger, ao se projetar a realidade e modificar a vida. Como prática natural, guardadas as devidas proporções filosóficas do conceito, o ato do pensar se converte em atividade corriqueira caindo, rotineiramente, no descaso.

O fato de que a lógica do modus organizacional da sociedade contribui para o "atrofiamento" da razão, influenciado pela enxurrada de paradigmas que, diuturnamente, obrigam o humano à adaptação, não merece tanto apreço. Entretanto, não se pode agregar toda a culpa pela atual conjuntura às instituições sociais (família, escola, religião etc), ou mesmo ao sistema econômico (capitalismo), ou ao ordenamento político (neoliberalismo). Fato, inegável até, que o humano tem parte na forma como o pensar tem se transformado na maior dor possível de ser sentida.

A proposta desta coluna é, sobretudo, promover a tomada de consciência, criando assim, uma forma, não impositiva, mas consciente, de se tomar a realidade como processo, onde o pensar pode ser entendido como um auxiliar para a resposta às principais dúvidas do ser pensante. Tal forma se inicia com a observação do interior (introspecção - auto-análise), passa para a percepção (exterioridade como formação), chega a abstração (possibilidade de apreender as pessoas, as coisas e os objetos), toma a via da reflexão (pensar sobre, idealizar, formar opinião) e finda com a ação prática (questionamento e mudança da realidade).

O modo inovador que aqui se constrói, se apoia no fato de que o humano já não se interessa mais pela arte do pensar. Tal feito é relegado a outras pessoas; há sempre o outro que pensa. Há sempre alguém que tem a função de encarar a difícil ação prática do refletir. De fato, se perfaz de maior comodidade a prática de simplesmente se preocupar com aquilo que não é tão desgastante. Que me perdoem os praticantes dos hábitos a seguir, mas, é preferível, ao invés de pensar, fazer compras, assistir TV, observar o tempo, frequentar as redes sociais, copiando pensamentos e colocando na sua página, enfim, na vida "nada se cria, tudo se copia", parafraseando o saudoso Abelardo Barbosa. Em outros casos, a realidade não interessa; afinal, porque pensar sobre economia, política, religião, sociedade, quando nada do que se fizer vai alterar o fluxo da História... 

Para que melhor se compreenda a proposta, basta realizar o processo descrito, com um assunto comum e atual: corrupção. Porque pensá-la? Nada do que se fizer poderá modificar tal comportamento... Perguntas com o que eu tenho a ver com isso? (Introspecção); ou isso me afeta? (Percepção); ou mas o que é corrupção? (Abstração); ou como tudo isso pode alterar a vida? (Reflexão); por fim, o que posso fazer para modificar essa realidade? (Ação prática).

Na verdade, não compensa pensar... Além de provocar grande dor, o pensar não me leva a ganhar nada (leia-se valor monetário). O pensar não me dá prazer... O pensar somente complica a relação, prefiro a ignorância! Aliás, quem matou Odete Hoitmen?

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