ARTICULISTAS

Pela subversão moral

Pode parecer agressivo a quem toma o título da conversa de hoje

Savio Gonçalves dos Santos
Publicado em 17/11/2011 às 20:11Atualizado em 19/12/2022 às 21:22
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Pode parecer agressivo a quem toma o título da conversa de hoje, devido à presença da palavra subversão. Entretanto, a aplicação de tal vocábulo é que se encontra mal colocada, estando, em boa parte das vezes, presente em momentos de “transtornos” pessoais e sociais. É preciso deixar claro que subversão não significa, obrigatoriamente, refutar tudo aquilo que traduz ordenamento (ou o próprio), impondo uma forma de organização pautada num completo estado de anomia (impossível teoricamente, porém, factível ao se observar a sociedade atual). A subversão aqui assume contornos de um ufanismo, tipicamente brasileiro (perdoem a redundância em prol da objetividade), em que a proposta se encontra justamente na mudança.

Ao se tomar o contexto mundial, promovendo uma análise filosófica, fica evidente que muito se ouve falar da necessidade da mudança, seja ela de comportamento, de atitude, de vida, de reflexão, mas pouco se faz pela transformação real. Há uma preocupação, quase generalizada, em se criticar, apontar falhas, erros, devaneios, mas nada novo surge! Busca-se diuturnamente desconstruir, mas nada se constrói. Vive-se numa hipocrisia constante, onde, na verdade, inexiste a vontade de criar um embate moral. É preferível sublimar a dimensão moral, pois gera conflito e exige ação direta, e opta-se pela suposição, pela depreciação, acusação. Por essas e outras é que se percebe a necessidade de que a moral atual seja subvertida.

Se, teoricamente, sabe-se que a moral é formada a partir das instituições sociais, subdividida em duas dimensões, a pessoal e a social, a transformação não passa somente pelo aspecto social. De nada adianta transformar a moralidade se o ser moral permanece como está. Trocando em miúdos, seria como fazer uma reforma no sistema político, mantendo os mesmos políticos no “poder”. A subversão moral começa quando se tem a capacidade de questionar determinadas regras de conduta, entendidas como estritamente necessárias e fundamentais, que na verdade se escondem dos questionamentos atrás dos dogmas e positivações, evitando o conflito. É justamente essa capacidade reflexiva, pessoal, ao que outrora fora recebido da sociedade, que modifica o contexto social. É preciso que se comece a rejeitar comportamentos sem sentido, que contribuem para a estagnação do indivíduo; é preciso enxergar, com os olhos da crítica, a opressão camuflada, a ditadura metamórfica, o ópio do fundamentalismo religioso e o fanatismo capitalista. É preciso subverter a moral construída na contemporaneidade, deixando que princípios esquecidos sejam resgatados e que novos eclodam. Educação, ética, gentileza, fraternidade, bondade, simplicidade, fé, foram aos poucos sendo substituídas pelo egoísmo, indiferença, grosseria, descrença, egocentrismo...

Não se pode mais esperar pelo novo, advindo da ponta da pirâmide hierárquica; a mudança começa em cada um dos indivíduos. Ações simples podem modificar a realidade em que se vive. O simples ato de solicitar a nota fiscal em uma compra, por exemplo, é um passo contra a corrupção; mas é complicado começar a subverter essa moral que está imposta, baseada na velha tática romana do pão e circo. Afinal, quem não prefere um pão?

(*) Mestre em Filosofia, membro da comissão de avaliadores do MEC e professor universitário

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