Querida neta, Paulinha... Os olhinhos! Escuros e bem abertos
Querida neta, Paulinha,
Os olhinhos! Escuros e bem abertos. Você, Paulinha, tinha acabado de nascer, vindo ao mundo pelas mãos do tio Calixto que, orgulhoso, nos apresentou o pequenino ser. Ficamos todos admirados: esperta demais para uma recém-nascida.
Como os outros netos, tínhamos sempre sua graciosa presença ao nosso lado. Vimos cada um crescer, buscando seus caminhos, tão claros nos tipos de brinquedos.
Sua preferência, querida neta: bonecas e livros. E, quantas vezes, brincando com você – ainda pequenina – na divisão das bonequinhas, você sempre escolhia as mais completas: para mim, sobravam aquelas em que faltava uma perna, ou um braço, ou com os cabelos desgrenhados. Marotamente, você me olhava, estudando minha reação. Eu reclamava, e as coisas se resolviam.
Lembro-me, certa vez, era um sábado à tarde: sua mãe e eu tínhamos que sair, e você ficou com o vovô Lilo, carinhosamente assim chamado pelos netos. Algum tempo depois, quando voltamos, fomos encontrá-la assentadinha perto do avô, toda lambuzada de coca-cola – ele tudo permitia –, feliz da vida. De outra vez, deparamo-nos com outra situação engraçada: no pátio do Colégio, toalha estendida ao chão, sentados seu avô e você, várias guloseimas, o piquenique armado para distrair a pequena neta.
Olho para trás, o tempo trazendo tempos tão felizes! Olho para você, a adolescente contida, – e tanto que, neste aniversário de 15 anos, não queria festa nenhuma, apesar de nossa insistência: aceitou apenas um restrito encontro familiar, – pouca fala, afeita sempre à leitura: nem sei quantos livros por mês. Olho para você, o corpo já desenvolto, um pouco menina ainda nos traços – vez por outra, é surpreendida ainda acariciando as bonecas – um pouco mulher: “Está naquela idade inquieta e duvidosa,/ Que não é dia claro e é já o alvorecer;/ Entreaberto botão, entrefechada rosa,/ Um pouco de menina e um pouco de mulher.”
Nesse entreabrir-se para a vida, querida Paulinha, não permita se perca seu jeito de ser: extremamente ligada à família, companheira carinhosa dos pais, Maria Angélica e Aguinaldo, que tanto a amam, e dos irmãos Marcelo e Renato – pequenas arrelias se resolvem sempre.
Seus avós, Alva e Aguinaldo, Terezinha e Murilo (de onde estiver) aqui ficamos, na esperança, calcada em orações, de que o futuro continue proporcionando a você este crescimento que temos acompanhado com os olhos do amor, crescimento que não se restrinja à aquisição cultural e profissional apenas, mas como ser humano que consiga sempre ver o mundo com clareza ética e amorosa, sob as bênçãos de Deus.
Nossa Senhora, Mãe de todos nós, a proteja sempre, querida neta, em todos os momentos de sua vida.
Com muito carinho,
Vovó Tetê
(*) educadora do Colégio Nossa Senhora das Graças e membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro [email protected]