As palavras possuem o poder da magia. Dizem, muitas vezes, desdizendo; desdizem, muitas vezes dizendo. Cada uma delas representa um universo independente, mas ligadas a outras podem assumir
As palavras possuem o poder da magia. Dizem, muitas vezes, desdizendo; desdizem, muitas vezes dizendo.
Cada uma delas representa um universo independente, mas ligadas a outras podem assumir significados imprevisíveis.
Ouço Nara Leão( de João Donato e Lyslas Ênio): “Até um dia, até talvez, até quem sabe...” Até: “limite de tempo no espaço ou nas ações”. Como entender o até talvez, limite que perde sua condição de limite para ultrapassá-lo na possibilidade? Como entender o até quem sabe? O limite que deixa de ser limite para adentrar o espaço da dúvida?
As palavras são mágicas e carregam nossas ações. Mas com elas é possível fugir do campo palpável da certeza para o campo do sonho, da fantasia, da possibilidade.
As palavras suportam nossos sonhos, nossos pesadelos, nossos delírios. Por isso podemos usá-las além de sua circunscrição. Eu dig meu amor, e essa expressão carrega meu sentimento sobre o ser amado que, no entanto, eu não vejo, mas eu o sinto, pois as palavras o trazem para mim a todo momento. Palavras plenas de sonoridade, ou apenas murmuradas, ou ainda desenhadas em meu pensamento.
“Até um dia, até talvez, até quem sabe...”
Assim a vida nos surpreendesse sempre com a quebra da implacabilidade das palavras. Assim fossem sempre as palavras verdadeiros canais de milagres, rompendo os parâmetros de nossas angústias, de nossa sensibilidade, trazendo, com sua força, o mundo mágico do possível, do certo, em ação transformadora.
Dizem que as palavras têm força por si sós. Dizem que quando falamos, o “Universo conspira” em favor do que falamos.
Crendo ou não na assertiva, vale a pena que só evoquemos palavras que nos tragam de volta o ser amado, as pessoas que guardamos no coração, aquilo que coopere para o bem de nossas almas.
Talvez por intuir sobre o poder das palavras, minha mãe falasse ao neto-criança – que vivia repetindo, sem saber o real significado, palavras, como dizia ela, feias: Meu filho, fale palavras bonitas: flor, borboleta, passarinho, nuvem... e vinha uma lista de vocábulos que enternecem a alma.
“Até um dia, até talvez, até quem sabe...” As palavras vão além de seu corpo material, com vida própria para nos conduzir a mundos e situações inimagináveis. Palavras...
(*) educadora do Colégio Nossa Senhora das Graças e membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro