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Osteoporose e o tratamento com cálcio. Mito ou verdade?

Para entendermos os tratamentos atuais disponíveis para o controle da osteoporose, precisamos, antes de qualquer ...

Dr. José Fábio Lana
Publicado em 13/04/2011 às 11:31Atualizado em 20/12/2022 às 00:47
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Para entendermos os tratamentos atuais disponíveis para o controle da osteoporose, precisamos, antes de qualquer recomendação, saber como funciona o osso ao nível celular.

Os ossos passam por constante renovação. É um ciclo intermitente onde as células velhas são removidas e células novas são depositadas na arquitetura óssea. Ou seja, assim como a pele, o osso, mesmo sendo uma estrutura rígida, passa por uma troca de sua arquitetura frequentemente. As células que removem o osso velho chamam-se osteoclastos e elas fazem uma verdadeira “faxina”, removendo um tecido já envelhecido e sem função estrutural adequada e substituindo-o por células jovens, chamadas osteoblastos, que são assentadas no mesmo lugar.

A partir do entendimento deste processo, é possível ter uma melhor dimensão de como se dá a osteoporose. Na verdade, este é um processo que acontece com a retirada de osso velho sem a reposição adequada de osteoblastos ou osso novo. Quando acontece maior eliminação do osso velho do que a construção do osso novo, há um processo instalado de rarefação óssea, o qual se denomina osteoporose. Normalmente, essa troca descoordenada começa a acontecer após os 50 anos de idade.

Além disso, para acontecer a reposição óssea é necessária a existência de uma matriz, uma comparação semelhante à construção de uma casa, que necessita de um alicerce de vigas de concreto. Essas “vigas” do osso (matriz) são formadas de um complexo de minerais e hidroxiapatita, e não somente de cálcio. Quando pensamos somente em cálcio, seria como se fizéssemos uma massa para fazer a casa e faltassem outros ingredientes. Ou seja, o cálcio não e o único ingrediente importante para a matriz óssea.

Muitos medicamentos estão diponíveis no mercado e a indústria tenta convencer os médicos de que eles são eficazes. O grupo dos Bifosfonados é usado com o intuito de evitar a ação dos osteoblastos. Sendo assim, o nosso velho não será removido com tanta velocidade. Mas será que o osso velho desempenha uma boa função? Será que esse osso não se torna mais quebradiço, fraco e ineficiente? As formas de medir a osteoporose ainda não são tão eficazes e não podemos afirmar que estamos totalmente certos nesse caminho. Precisamos muito mais do que apenas inibir os osteoclastos, as células que removem tecidos envelhecidos. Na verdade, o fundamental é estimular a deposição de um osso novo para melhorar e prevenir a osteopororse.

Pior ainda é recomendar somente a ingestão do cálcio. O sistema ósseo mineral é complexo e tomar leite e suplementos com cálcio não significa que teremos boa reposição do osso.  A microarquitetura óssea precisa de fósforo, magnésio, manganês, zinco, cobre, boro, proteínas, vitamina A, C, D, K, B6, B12, além de um balanço adequado hormonal.

Vale alertar também que tomar estrógeno sintético não é suficiente. Pelo contrário, pode até ser perigoso. Precisamos de um equilíbrio hormonal para que a reposição óssea aconteça de forma adequada. E mais ainda: é necessário um reequílibrio alimentar. O leite sozinho não será suficiente e, dependendo do caso, poderá ser até prejudicial. Precisamos pensar em mecanismos de absorção dos minerais. Será que o nosso intestino está absorvendo bem o cálcio do leite e do suplemento de cálcio com vitamina D? Qual será a interferência dos alimentos na absorção desse mineral? O paciente poderá estar eliminando o cálcio pela urina e não estará havendo uma boa deposição nos ossos? Portanto, existem muitas variáveis a serem pensadas no tratamento da osteoporose.

Na próxima coluna, continuaremos a discutir e a investigar melhor o assunto, falando do reequilíbrio de minerais, das vitaminas e de como aumentar a deposição de um osso novo e saudável, sem pensar tanto em medicamentos como primeira e única linha de tratamento. Eles existem para nos ajudar, porém, há inúmeras outras condutas importantes que não são priorizadas atualmente e que merecem toda a nossa atenção.

Referências:

Raquel Bedani, Elizeu Antonio Rossi. O consumo de cálcio e a osteoporose. Revista Semina: Ciências Biológicas e da Saúde, Londrina, v. 26, n. 1, p. 3-14, jan./jun. 2005. Disponível em http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/seminabio/article/viewFile/3603/2917

Mehrsheed Sinaki, Michael Pfeifer, Elisabeth Preisinger, Eiji Itoi, René Rizzoli, Steven Boonen, Piet Geusens and Helmut W. Minne. The Role of Exercise in the Treatment of Osteoporosis. Current Osteoporosis Reports. Volume 8, Number 3, 138-144, DOI: 10.1007/s11914-010-0019-yc.

 

 

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