Em sua obra Os Sertões, Euclides da Cunha, ao tratar da formação racial do sertanejo
Em sua obra Os Sertões, Euclides da Cunha, ao tratar da formação racial do sertanejo, fala da mistura de raças, em sua generalidade, como um retrocesso. Mas o sertanejo nordestino seria diferente: mesmo sendo resultado de uma mistura étnica, não se corrompera, por estar isolado no interior do país e ter ficado, por três séculos, sem maiores contatos com o litoral desenvolvido.
Apesar de seu atraso mental, o sertanejo surge como um titã. Daí a afirmação de louvor a ele: “O sertanejo é, antes de tudo, um forte.” O bordão criado por Euclides da Cunha marcou o sertanejo como um homem de grande bravura no enfrentamento do inóspito sertão nordestino.
Guardadas as devidas proporções, estamos pedindo emprestada a Euclides a força desse bordão, pois serve como uma luva para definir a situação do empresário brasileiro, que se aventura a abrir um negócio, gerar riquezas para o país e, mais ainda, gerar os empregos de que todos os brasileiros precisamos. Dizemos, então, que o empresário brasileiro “é, antes de tudo, um forte”.
Em todos os setores da atividade empresarial, a extenuante e tormentosa burocracia nacional é como uma corrida de obstáculos. Com uma enorme dose de paciência, o empresário consegue vencer essa corrida e abrir um negócio, seja um pequeno bar, um varejão, um supermercado ou uma potente indústria.
A instalação desse negócio é cada vez mais complicada e constantemente surgem novas exigências, de toda espécie. Para construir um pequeno cômodo, numa esquina onde poderá ser instalado algum empreendimento, o empresário fica a poucos metros... de um infarto.
E mesmo os estabelecimentos que já funcionam há anos são obrigados a se adequar a regras que vão surgindo, sempre em benefício do cliente, do usuário, da saúde de todos; sem que sejam levados em conta os gastos para as adaptações. Não sendo isso possível, que se feche o estabelecimento.
Vem, então, a concorrência, que, embora seja até certo ponto salutar para o consumidor, pode acabar decretando o fim de algum negócio. Principalmente quando se trata de produtos importados, muitas vezes colocados no mercado a preços impossíveis de serem acompanhados.
E há a questão dos impostos. Nesse quesito, o Brasil é campeão em onerar o setor produtivo. Dizem que os impostos são elevados, pois há muita sonegação e é preciso compensar o prejuízo do estad inocentes pagam por pecadores.
Em relação aos empregados, o empresariado tem que ser mesmo um forte para aguentar o tranco, tantas são as exigências legais. Ninguém discorda de que todo empregado deve ser protegido pela lei e de que o empresário deve ter extremo cuidado ao lidar com o assunto. E ninguém discorda também de que a folha de pagamento é alta e os encargos trabalhistas, pesadíssimos. Assim não são raros os atritos trabalhistas. E mesmo que o empresário ganhe a causa, sempre há o desgaste financeiro e aborrecimentos sem fim.
Já em relação aos impostos, ainda que tudo seja pago corretamente, é inevitável que haja uma fiscalização para confirmar o movimento. E sempre surge uma dor de cabeça no encontro com o fisco. Mesmo que não haja multa alguma, fica o aborrecimento.
E há mais ainda para cima do empresário. Como exemplo, citamos as visitas inoportunas de quem prefere viver de assaltos que lhe rendam bons resultados. E quando o prejuízo do empresário é só com bem materiais, agradeçamos a Deus. Nem sempre podemos fazê-lo, pois são incontáveis os assaltos e também sequestros e mortes de empresários e de membros de suas famílias.
Por falar de assaltos a empresários, ainda agora, acena-se com o décimo terceiro especial para trabalhadores com mais de um ano de casa, medida que vai entrar em vigor logo, pois está na Constituição. Apenas mais um gasto. Verdadeiramente, o candidato a abrir uma porta deve estar bem preparado, que os sustos são brutais no exercício da atividade.
Mesmo diante de tanta adversidade, se as partes se acordam e o empregado presta um bom serviço e o patrão lhe paga um salário justo, então é tocar o negócio, ainda mais se lucrativo e capaz de manter todos satisfeitos: empresário, empregado e governo, o grande sócio em todos os negócios.
Com tudo o que aqui apresentamos e com tudo o mais que poderíamos citar, afirmamos, com convicçã o empresário brasileiro “,é, antes de tudo, um forte.” E já que estamos acostumados às dívidas, nós, no exercício da escrita, e o empresariado, no exercício da paciência, agradecemos a Euclides da Cunha pelo empréstimo de seu bordão.
(*) Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro