Alguns amigos me fizeram reparos sobre minha crônica de sábado. Estaria eu muito pessimista? Não, discordo deles. O mundo ainda é um bom lugar para se viver
Alguns amigos me fizeram reparos sobre minha crônica de sábado. Estaria eu muito pessimista? Não, discordo deles. O mundo ainda é um bom lugar para se viver. E deram motivos: “quem faz a felicidade somos nós”, coisa que eu jamais neguei. A felicidade não é um conceito vago, abstrato, poético. Felicidade é um modo de encarar a vida, um modo de olhar as coisas, um modo de ver o que vem pela frente. É um estado de espírito. Parece-me que foi Coelho Neto quem firmou que “ser mãe é sofrer num paraíso”. Ela faz do sofrimento o motivo da felicidade, ela “tem” um filho.
Os outros, muitas vezes, nos fazem infelizes. A sabedoria é que nos ensina a conviver com a dor. É saber viver os momentos felizes com intensidade. São momentos fugazes, mas acariciam nossa esperança.
Citei Sartre: “O inferno são os outros”. Talvez não tenha me expressado bem. A felicidade vem de dentro, sei disso. Agora, viver o interior é uma arte. O “olhar interior” exige treinamento. Exige oração, clima. São coisas que se conquistam a duras penas. É fruto de uma longa paciência. Nessa área os budistas nos superam. São treinados a não se apegarem a nenhum desejo, pois é o desejo que traz a dor. Para nós, cristãos, o conviver com a dor é conquista e, também, acima de tudo, um dom do Espírito Santo.
A procura da felicidade, do equilíbrio interior, da paz, foi sempre a maior preocupação das religiões antigas — egípcia, fenícia, hebraica, indu, todas enfim. Feliz era o sábio, o possuidor da sabedoria. Sábios eram os que aprendiam a viver. Sabedoria não era apenas conhecer. Era saber viver. Os hebreus, os budistas, os induístas, deixaram-nos máximas sobre como se comportar no falar e no agir. São conselhos de natureza moral. São reflexões sobre os problemas da vida, sobre o bem e sobre o mal.
A sabedoria que nós, os cristãos, herdamos dos hebreus é imensa. Os livros da Sabedoria, do Sirácida, dos Provérbios, as máximas de Jesus, encerram lições profundas de sabedoria. É por isso que os hebreus dividiam os homens em duas classes: os sábios e os estultos. Os sábios procuram a felicidade em Deus; os estultos procuram a felicidade aqui mesmo.
Uma sugestã Se você tem sua Bíblia em sua casa e a lê, procure um momento de silêncio e de paz e leia Mateus 6, 25-34. Agora, se você é autossuficiente, se você se acha superior a essas coisas da Bíblia, pelo menos, por curiosidade, leia o texto, é pequeno. Mas, se ficar com vergonha de ler a Bíblia, leia escondido... ninguém vai ver e perguntar se você virou crente!