O sentido das coisas. Coisas do nosso cotidiano. Como uma passagem no chão da varanda, como uma planta pendurada no teto, como uma foto lembrando bons momentos, como um canto esquecido da casa
O sentido das coisas. Coisas do nosso cotidiano. Como uma passagem no chão da varanda, como uma planta pendurada no teto, como uma foto lembrando bons momentos, como um canto esquecido da casa.
O valor das coisas. Tão subjetivo. Como disse Henriqueta Lisboa: “Também as cousas participam/ de nossa vida. Um livro. Uma rosa./ Um trecho musical(...) O Crepúsculo(...) A graça de um retalho de lua(...) A mesa sobre a qual me debruço(...)” E continua a poeta: “...que tenho a ver contigo/ se não leste o livro que li/ não viste a rosa que plantei/ nem contemplaste o pôr-do-sol/ à hora em que o amor se foi? Que tens a ver comigo/ se dentro em ti não prevalecem/ as cousas – todavia supérfluas -/ do meu intransferível patrimônio?”
E eu complet o olhar que mira aquela foto no porta-retratos não é o mesmo olhar que eu dirijo a ela.
Os ramos da jabuticabeira que, distraidamente, eu admiro, nenhum significado possuem para quem os vê. Mas para mim trazem pedaços de história. O chão que eu piso, a janela aberta para o vazio, uma porta que range ao fechar, o que significam para você e para os outros?
O mundo das coisas pertence a quem o vivenciou, a quem sofreu ou se alegrou com ele, a pequenos momentos fugidios, mas grudados na alma da sensibilidade.
Ah! O valor das coisas! O valor das pequenas coisas, despercebidas aos olhos daqueles que não se interessam por elas, por nada lhes significar. O valor perceptível apenas para a alma de quem vê, em coisas esquecidas, o elo com um passado que fez florescer o amor. Coisas que fazem despertar no coração a presença de palavras moldadas no carinho, de almas que se amarraram no sentimento inextinguível, por isso ainda entrelaçadas, a despeito do tempo e do espaço que não se veem.
E, como disse a poeta, que tem você a ver com as coisas que me despertam lembranças e sentimentos capturados do íntimo de meu ser? Elas dizem respeito “ao meu intransferível patrimônio”, àquele legado que, inerente às minhas memórias, faz o meu mund não importam apenas o “aqui e agora”, mas também o que se reflete, por meio das coisas que me cercam, em meu universo interior.
(*) educadora do Colégio Nossa Senhora das Graças e membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro