ARTICULISTAS

O significado do pobre

Há dias tive um sonho estranho. O ex-presidente Francisco Figueiredo, vestido de branco

Padre Prata
Publicado em 27/08/2011 às 20:21Atualizado em 19/12/2022 às 22:36
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Há dias tive um sonho estranho. O ex-presidente Francisco Figueiredo, vestido de branco, de casquete e boinas pretas, escovava, embevecido, um cavalo campolina. Foi mais que um sonho, foi um pesadelo. Acordado, lembrei-me de sua sentença lapidar: “Prefiro o cheiro de meus cavalos ao cheiro do povo”.

Esse sonho soturno me levou a lembrar de Dom Helder: “Quando levo alimento aos pobres, dizem que sou um santo; quando questiono a razão pela qual os pobres não têm alimento, dizem que sou comunista”. Bispos como Dom Helder estão ficando cada vez mais raros e os católicos mais esclarecidos cada vez mais preocupados.

A propósito, é bom lembrar que a Igreja não são apenas o Papa, os Bispos e os Padres. Estes são apenas 0,3%. São os dirigentes. A Hierarquia. Os restantes 97,7% são os leigos, são “as ovelhas”. Não têm voz ativa. O que não entendo bem é porque jogam toda a responsabilidade sobre a Hierarquia. A responsabilidade deles é bem maior. Mas, os leigos também têm sua culpa. Por que não dividimos os nossos erros? Todos nós andamos muito mais preocupados com as coisas do mundo do que com as coisas de Deus. Os erros da Igreja não abalam a Fé daqueles que sabem distinguir as coisas, o joio e o trigo. Eles sabem que a Igreja é constituída por homens sujeitos às mesmas fraquezas comuns dos mortais. As mazelas da Igreja são uma “festa” para os chamados flutuantes. Para eles é uma alegria mórbida quando ficam sabendo dos erros de um homem de Igreja.

No Evangelho, o pobre é o ponto de referência do julgamento de todos nós, padres e leigos. “Tive fome e não me destes de comer, tive sede e não me destes de beber. Estava abandonado e não me destes abrigo.” Não seremos  julgados pela nossa religião, pela nossa posição social, pelos nossos títulos, pela nossa cultura. O parâmetro é o pobre, o que fiz por ele? Estamos muito preocupados com as nossas devoções particulares, com nossa Bíblia, com nossas “rezas”, com nossas obrigações legais e rituais. E o pobre? 

Termino com uma afirmação de São Vicente de Paulo (séc. XVII): “Logo verás que caridade é pesada. Bem mais que o caldeirão de sopa e o cesto de pão. Não basta distribuir a sopa e o pão. Isto os ricos podem fazer. Somente por causa de teu amor, exclusivamente por causa de teu amor, os pobres poderão perdoar-te o pão que dás”.

                       

(*) Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro

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