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O quie significa ser patriota?

Não leio noticiário político nem os vejo pela televisão

Padre Prata
Publicado em 22/01/2012 às 15:16Atualizado em 17/12/2022 às 07:55
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Não leio noticiário político nem os vejo pela televisão. Com a idade, o tempo vai ficando cada vez mais curto e o certo é economizar meus últimos neurônios.

Na semana passada, porém, me aparece na TV um desconhecido senhor falando sobre as lutas patrióticas de seu partido no esforço para criar um Brasil mais justo, criando programas inteligentes e eficazes sobre a educação, sobre a segurança, sobre a saúde e por aí a fora. “Lutas patrióticas”, o que seria isso? O que seria “lutar pela pátria amada, idolatrada, salve, salve”?

Não sei bem por quê, lembrei-me de um fato histórico. Estou falando de História, de coisas comprovadas e não das “estórias” que nos contavam para que fôssemos patriotas como os heróis da Guerra do Paraguai. Já escrevi sobre isso uma vez, mas “o patriotismo” é tão chocante que me faz relembrá-lo.

O exército brasileiro entrou em Assunção no dia 5 de janeiro de 1868. Para Caxias, a Guerra estava terminada. Dignamente, negou-se a continuar o que não seria mais uma guerra, mas uma caçada inglória. Foi substituído no comando pelo Conde d’Eu, genro do Imperador. Vibrando de orgulho, para mostrar ao mundo seu patriotismo, promoveu uma guerra de extermínio. Ficou famosa a batalha de Acosta Nhu. A selvageria foi tanta que os nossos manuais de História nem tocam no assunto. De um lado, o Paraguai com 3.500 soldados de nove a quinze anos. Junto deles apenas 500 soldados veteranos comandados pelo General Bernardino Caballero. Do outro lado, o Brasil com 20 mil homens. Os paraguaios foram cercados por todos os lados. A batalha durou um dia. As crianças paraguaias, apavoradas, agarravam-se às pernas dos soldados brasileiros, chorando, pedindo que não as matassem. Eram degoladas sem piedade. As mães dessas crianças, nas macegas ao redor, acompanhavam a luta. O heróico Conde D’Eu, vibrando de patriotismo, mandou que fossem incendiadas aquelas macegas. As mães daquelas crianças foram queimadas vivas. Solano Lopes e cem combatentes não puderam mais resistir. Solano avança com seu cavalo por entre os soldados brasileiros, gritand “Muero com mi pátria”. O lanceiro Chico Diabo perfura seu ventre, outro acerta-lhe a testa com um golpe de sabre. O General Câmara ordena-lhe que se renda. Solano nega-se e leva um tiro pelas costas. O tenente Genésio Fraga corta-lhe uma orelha. Outro soldado corta-lhe um dedo como “souvenir”. Outro quebra-lhe os dentes com uma coronhada. É cuspido e chutado pelos soldados. Os patriotas brasileiros vibram de emoção e cantam o Hino Nacional.

Você tem lido alguma coisa sobre a situação da saúde no Brasil? Sobre a educação? Sobre a segurança? Sobre a pobreza? Sobre a corrupção das classes dirigentes? Sobre as mentiras que nos impingem? Sobre a invasão crescente das drogas? Diante desse mapa de tristeza e dor, dá para entender o que essa gente diz quando fala em patriotismo com a cara mais limpa do mundo? Em um novo Brasil?

           

(*) Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro

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