ARTICULISTAS

O Paradoxo do Progresso

Danilo Lima
Publicado em 28/03/2014 às 11:11Atualizado em 19/12/2022 às 08:26
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Aproveito os últimos dias do verão uberabense, acordo, abro minha janela e aqui, do alto do bairro Estados Unidos, aprecio de longe a igreja da Abadia. Percebo que algo começa a mudar na paisagem, até então horizontal, deste importante bairro. Ao invés das velhas casas e árvores que me eram familiares, hoje os prédios começam a tomar conta de uma significativa parte de minha visão. Sinto que daqui a alguns anos será impossível pedir a bênção da padroeira aqui de casa.

A expansão da construção na cidade está a todo vapor e a olhos vistos. Segundo dados do Cohagra, existem 5.359 casas em construção somente em seus programas habitacionais, sem contar os empreendimentos particulares. Se você caminhar pelos bairros mais próximos do centro da cidade, nota-se claramente a substituição dos velhos casarões por um prédio ou, pior, por um estacionamento. O que era antes uma construção histórica de design próprio cedeu espaço a uma loja, farmácia ou coisa do tipo. Quer exemplo maior que o prédio do Lavoura e Comércio? Fico de cabelo em pé de pensar no destino de importantes construções uberabenses.

Os moradores da praça Santa Teresinha olham ao seu redor, ou melhor, para cima, e acompanham a construção de um grande prédio que começa a destoar daquele “relevo” até então formado por construções de médio e pequeno porte. Daqui alguns meses, novos vizinhos, mais carros. Que Santa Teresinha os abençoe com mais paciência também.

Não é de se surpreender que exista uma corrente no mundo acadêmico que estuda tais transformações nos bairros e até da população local, chamada de gentrificação. Tal processo em algumas cidades ao redor do mundo estimula o surgimento de negócios e eleva o custo de vida, especialmente gastos com moradia (imóveis, aluguéis, condomínios, impostos, etc.), o que acaba por “expulsar” os antigos residentes de suas áreas residenciais.

As grandes modificações estruturais que as cidades passam são em geral reflexos da melhoria na qualidade de vida de sua população. Um grande prédio em construção, na Leopoldino de Oliveira, significa que uma empresa vai contratar e gerar renda, completando assim o ciclo capitalista para o “progresso” da cidade. Torçamos para que a realização deste sonho progressista não nos impeça de apreciar e, acima de tudo, contar nossa própria história.

 

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