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O país do não sei

desculpa do “não sei” não é exclusivamente nossa. É um recurso milenar. Adão não sabia o que Eva estava aprontando. Caim não sabia onde estava Abel. Pilatos não sabia o que era a verdade

Padre Prata
Publicado em 29/08/2009 às 20:59Atualizado em 20/12/2022 às 10:53
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A desculpa do “não sei” não é exclusivamente nossa. É um recurso milenar. Adão não sabia o que Eva estava aprontando. Caim não sabia onde estava Abel. Pilatos não sabia o que era a verdade. Pedro não sabia quem era Jesus Cristo. O muçulmano Omar não sabia o que era biblioteca. Pedro Alves Cabral não sabia o que tinha descoberto. Bush dizia não poder ajudar a América Latina porque não sabia falar latim. Maluf não sabia se tinha dinheiro nos paraísos fiscais. Um senhor senador não sabia se tinha um castelo, por isso não declarou. O Sarney não sabia que todos os meses eram depositados mais de três mil reais em sua conta bancária. O Presidente não sabia nada de mensalão. Os nossos deputados levavam mulher, filhos, sogras, namoradas para passear em Paris e não sabiam quem estava pagando as contas. O Zé Dirceu não sabia que estava recebendo uma gratificaçãozinha extra. A Dilma não sabia que não tinha mestrado nem doutorado e botou no currículo assim mesmo. Um jornalista chegou a sugerir que nosso Presidente abrisse uma escolinha para ensinar aos interessados, a nova ciência do “Eu não sei”. Ninguém “nesse país” sabe de nada. O mais surpreendente mesmo é que o Presidente do Senado não sabia que a Fundação Sarney tinha desviado uma bolada grossa para empresas fantasmas. Tão inocente que nem sabia que sua casa de quatro milhões em Brasília tinha sido ocultada da Justiça Federal. “Nomeações secretas? Nunca ouvi falar nisso!”  Enquanto a farra engrossa aqui por perto, lá mais longe, em Paris, nosso Presidente declara “que não há crise no Senado, apenas divergências”. Um deputado (o nome, graças a Deus, esqueci) declara que não está “lixando” para a imprensa e nem muito menos para a opinião do povo. E acrescenta todo cheio de certezas: “nas eleições eles votam na gente de novo e somos eleitos do mesmo jeito”. É esse o nosso mal. Temos memória curta. Nós, aos poucos, nos esquecemos dessa gente e os colocamos lá em cima novamente. Nós também “não sabemos”...

No próximo ano temos eleições. Vamos votar em quem? Somos nós, os eleitores, os culpados de tudo isso.

Para fechar esse choro, nada melhor que um dito de Voltaire: “Mentez, mentez, quelque chose restera toujours” (Em tradução livre: “Menti, menti, alguma coisa vira verdade”.)

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