ARTICULISTAS

O homem e o beija-flor

Vendo a tragédia por que passa o Brasil, em especial, os Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais

Mário Salvador
mariosalvador@terra.com.br
Publicado em 18/01/2011 às 22:20Atualizado em 20/12/2022 às 02:05
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Vendo a tragédia por que passa o Brasil, em especial, os Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, vem-me à lembrança uma das versões daquela conhecida história do beija-flor:

Um terrível incêndio na floresta obrigou os animais a correrem procurando abrigo. Aves se debatiam na densa fumaça. Grande número de animais procurava a margem do rio ou algum lugar mais distante do fogo, locais seguros de onde observavam a destruição da mata.

Em meio àquela confusão, os bichos perceberam que um beija-flor chegava até o rio e pegava com seu biquinho uma gota de água. Em seguida, voava para a selva e lançava aquela gotícula sobre o fogaréu. E repetia incansavelmente essa árdua tarefa.

Estupefatos, os bichos perguntaram à ave se achava que iria apagar o fogo com aquelas gotas de água. E a resposta do beija-flor foi sucinta: “Procuro fazer a minha parte!”

Numa interessante versão apresentada pelo sociólogo Betinho, todos os animais, a começar pelo elefante, vendo o exemplo daquela avezinha, passam a entender que apagar o incêndio era responsabilidade de todos. E, juntos, acabam alcançando sucesso na empreitada.        

A mídia nos deixou a par dos transtornos provocados pelas chuvas. As cenas nos assustaram. Em meio a tanta destruição, pudemos notar, por exemplo, em um dos trechos do rio Tietê, uma montanha formada pelo acúmulo de garrafas PET. Também foram mostrados, à exaustão, sacos e mais sacos de lixo sendo levados pela forte correnteza em várias ruas da capital paulista.

Sabemos que garrafas e sacos de lixo não foram responsáveis sozinhos pelas inundações. Entretanto é inegável que ajudaram bastante para que a situação se agravasse. O povo deveria realmente, ter cuidado com o lixo que produz. Não há mais como protelar essa situação.

Também a construção de obras públicas e a fiscalização ostensiva de certas áreas, evitando-se construções ilegais em lugares de risco, poderiam ter evitado ou atenuado muitos problemas. Porém, os governantes parecem se esquecer, em pouco tempo, dos transtornos dos anos anteriores.

Assim, em vários pontos do Brasil, as tragédias anunciadas vão marcando sua indesejável presença, ano a an famílias desabrigadas e desalojadas, ruas intransitáveis, confusão no trânsito, destruição de estradas, deslizamentos, desabamentos, interrupção de energia, enxurradas, inundações, estragos e prejuízos diversos, desaparecimento de pessoas, inúmeras mortes...

Parece irreversível o ataque do homem à Natureza. Ele se encarrega de criar os meios para que as tragédias se repitam indefinidamente. E, nesta mesma época chuvosa, ano que vem, se mais uma vez nada for feito, a mídia relatará fatos idênticos a esses.

Diferentemente do beija-flor e de seus companheiros, que mostraram zelo para com a natureza, o homem vai acumulando problemas, diríamos, gotinha a gotinha. Ficou claro que ele não tem aprendido com esses erros. E, um pouco tarde, descobre que a Natureza sabe retribuir -lhe à altura.

(*) membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro

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