A textura do fio. Assim a vida. Fio da vida
A textura do fio. Assim a vida. Fio da vida. Em fases da vida.
Muitas vezes o fio tranquilo em sua bambeza. Sem tensão. Assim a vida. Andando na serenidade. As peças no lugar, os sentimentos no lugar, a rotina no lugar. Nenhuma pressa, ansiedade controlada. Também as emoções na tranquilidade de lago sereno. Límpido em suas águas transparentes, como se os olhos fossem o reflexo das próprias águas.
De repente, retesa-se parcialmente o fio. Agora um início de intranquilidade. Nem todas as peças se encaixam na justeza do equilíbrio. Algumas, maiores, teimam em destoar do conjunto. Sobressaem, desequilibram-se. Assim a vida. O fio, agora, parecendo assumir outra textura, outra postura. Início de tensão. Como as águas de um lago sereno e manso que o cair de uma pedra ao meio provoca ondas, criando movimento circular. As águas já não são mais tão serenas e um leve embaçado tolda-lhe a superfície. Assim a vida. Pequenas preocupações muitas vezes lhe ofuscam parcialmente a trajetória. Leves desequilíbrios momentâneos lhe embaçam o caminho. E o ser humano coloca-se em estado de alerta. Perigo à vista. Em seu interior ou fora de si.
Mais um pouco, e o fio se sente esticado em sua inteireza. Tensão máxima. Assim a vida. De repente, sem que ninguém perceba, as águas do lago, antes calmas, depois com pequenas ondulações, se agitam. Interferências internas e externas revolvem-lhe a serenidade. A textura já não se apresenta encorpada. O fio, fino agora, ameaça arrebentar, na já quase intolerância total às tensões, vindas de todos os pontos. Assim o ser humano. Momentos em que a alma parece explodir e eclodir em manifestações que o próprio ser não suporta/comporta.
Momento inesperado ou até pressentid arrebenta-se o fio. As pontas se distanciam. Faz-se a ruptura. Assim a vida. Assim o ser human a trajetória se sente dilacerada, cortada, (inter)rompida. Estilhaços da existência se espalham, ferindo-o e, no ferir-se, ferindo quem se coloca à volta.
E ainda de repente, na roda da vida, aos poucos as águas do lago de novo se tranquilizam. Fazem-se transparentes. Sossegadas. E os fios, antes separados, juntam-se, às vezes deixando o nó à mostra, às vezes em verdadeira junção, como se nunca se houvessem separado. Volta-lhe a textura antes encorpada. Assim a vida. Assim o ser humano. Assim as retomadas existenciais, quando a alma se dá a oportunidade do reencontro, da recomposição, da reintegração consigo mesma e com o outro. Assim a vida. De todos nós. Às vezes fio de textura firme, às vezes lago de águas serenas, às vezes fio frágil em seu corpo, às vezes com força suficiente que o torne inquebrantável, às vezes frágil e quebradiço, nas oscilações que a trajetória humana tantas vezes provoca. Assim a vida de todos nós.
(*) Educadora do Colégio Nossa Senhora das Graças e membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro mailtthuebmenezes@hotmail.com