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O dia em que Rui Barbosa tornou-se general de brigada

A nossa República é marcada por fatos inusitados, desde sua proclamação

Valdemar Hial
Publicado em 24/06/2015 às 19:24Atualizado em 16/12/2022 às 23:36
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A nossa República é marcada por fatos inusitados, desde sua proclamação. Hélio Silva descreve em seu livro “O Poder Militar” algumas passagens dignas de serem aqui relatadas. Alguns republicanos, como Benjamin Constant, considerado o “Fundador da República”, sabiam que a única autoridade capaz de proclamá-la era o marechal Deodoro da Fonseca. Quando Benjamin leva os republicanos à casa de Deodoro ele ainda vacila em derrubar a Monarquia. O Marechal encontrava-se muito doente; era portador de grave doença cardíaca. Acreditava-se que ele não amanhecesse e se morresse, a revolução estaria fadada ao fracasso. Diz, então, Benjamin aos seus companheiros: “Os senhores civis podem se salvar; nós, militares, arrostaremos as consequências das nossas responsabilidades”.

Deodoro dormira mal, acometido de uma forte dispneia. Mas, Benjamin Constant e Quintino Bocaiúva foram buscá-lo. Animaram-no a vestir-se. Usou uniforme e casaca de botões dourados. Exigiu que o cavalo, que montaria, fosse branco. Com muito custo subiu em um cavalo branco que um miliciano lhe cedera, o quepe coberto de bordados. Ele não trazia espada, talvez por esquecimento, e com a mão direita levantada proferiu a frase habitual de um comandante ao assumir o comando da tropa:

“Viva o Imperador!

A tropa respondeu também convencionalmente, “para sempre viva”.

O Marechal deveria dizer: “Viva a República”, teria dito Benjamin Constant. Um oficial comunicou para fora o que se passava. Abriram-se as portas do Quartel General. Deram-se 21 tiros, vivas à República, sobretudo para abafar o inadvertido – “Viva o Imperador” - de Deodoro.       

Instala-se o governo provisório, que era dominado pelos militares. Deodoro incluíra em seu ministério alguns republicanos civis entre eles Rui Barbosa, Aristides Lobo, Quintino Bocaiúva, Campos Sales, Demétrio Ribeiro. Foi-lhes concedido, por decreto, o posto de general, de modo que o Governo se compunha só de militares. Assim, Rui Barbosa, glória da inteligência nacional, jurista emérito, diplomata, orador e escritor, foi Ministro da Fazenda nos primeiros dias da República, no período de 15 de novembro de 1889 a 22 de janeiro de 1891. Mais tarde, o marechal Floriano Peixoto, em 25 de novembro de 1893, mandou publicar um decreto cassando a patente do general de brigada Rui Barbosa e o expulsando do Exército.

Uma ocasião, perguntei a um grupo de estudantes:

- Vocês já ouviram falar de Hermes da Fonseca, de Wenceslau Brás e Epitácio Pessoa? Todos responderam que não. Então, perguntei:

- Vocês já ouviram falar de Rui Barbosa? Todos responderam que sim.

Pois bem, eu disse, Rui Barbosa perdeu três eleições subsequentes para aqueles três ex-presidentes que vocês desconhecem.      

Como se vê, a nossa República, desde o seu alvorecer até os dias de hoje, não passa de uma pitoresca odisseia, onde a maioria dos seus personagens não é digna dos ideais republicanos.

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