ARTICULISTAS

O Dia do Fico

O ano é 1822, o mês, janeiro. O Príncipe Regente Dom Pedro de Alcântara ficou no Brasil

Mário Salvador
mariosalvador@terra.com.br
Publicado em 15/02/2011 às 19:38Atualizado em 20/12/2022 às 01:41
Compartilhar

O ano é 1822, o mês, janeiro. O Príncipe Regente Dom Pedro de Alcântara ficou no Brasil, contrariando as ordens da Corte Portuguesa, que exigia a volta dele a Lisboa. Os liberais radicais se uniram ao Partido Brasileiro e organizaram um movimento que reuniu oito mil assinaturas a favor da permanência do Príncipe no Brasil.

         Foi então que Dom Pedro, contrariando as ordens de Portugal para que voltasse à Europa, declarou: “Se é para o bem de todos e felicidade geral da Nação, estou pronto! Digam ao povo que fico.” Este pronunciamento, de suma importância para o Brasil, foi feito em 9 de janeiro de 1822, data  que passou para a história como o Dia do Fico.

         A partir de então, Dom Pedro entrou em conflito direto com os interesses portugueses no Brasil, atitude que culminou com a independência do país, em 7 de setembro daquele ano. Dom Pedro, de maneira corajosa, inaugurou a ideia do Dia do Fico para as nações.

         O mundo acompanhou a grave situação no Egito, com a multidão nas ruas pedindo a renúncia do presidente Hosni Mubarak, de 82 anos, sendo 30 no poder. Por 18 dias a multidão tomou conta das ruas e praças exigindo a renúncia do ditador.

Para fazer frente ao movimento, Mubarak mandou seus policiais, disfarçados, segundo o noticiário, enfrentarem o povaréu. Montados em cavalos e camelos, os favoráveis ao presidente jogaram os animais sobre o povo.

A operação surtiu efeito contrário e a situação passou a ficar fora de controle. O número de mortos deve ter chegado a 300. Feridos, inclusive a pedradas, foram milhares.

Aconteceu, então, na quinta-feira, dia 10, o Dia do Fico do presidente Mubarak. Pela televisão ele anunciou, solenemente, que ficaria no poder até setembro, quando serão realizadas eleições nas quais ele e o filho não concorreriam.

Mas, ao contrário do que ocorreu no Brasil, lá no Egito, o Dia do Fico não teve a aquiescência popular. No Egito, o movimento nas ruas aumentou e a multidão se dirigiu ao palácio, residência do ditador. O exército se pronunciou, afirmando que iria garantir eleições livres e justas, indicando estar ao lado do povo. O ditador fugiu de helicóptero. E às 14 horas de 11 de fevereiro, o agora presidente Omar Suleiman anunciou a renúncia de Mubarak e a transferência do poder ao exército.

A alegria explodiu nas ruas. Em 18 dias o povo deu fim a uma ditadura de 30 anos. Agora é o mundo aguardar para saber quem vai comandar o Egito depois desse momento de transição política. E observar se a vontade do povo mudará o poder em outras nações do mundo árabe. Tunísia e Egito já fizeram a lição de casa.

Voltando às lições da história, enquanto no Brasil houve um Dia do Fico e o governante aqui ficou, no Egito também aconteceu de o governante criar o seu Dia do Fico, entretanto, o desfecho da história foi outro. Governantes precisam guardar na memória, definitivamente, essas e outras lições da história.

(*) membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro

Assuntos Relacionados
Compartilhar

Nossos Apps

Redes Sociais

Razão Social

Rio Grande Artes Gráficas Ltda

CNPJ: 17.771.076/0001-83

JM Online© Copyright 2025Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por