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O Concorrente

Na década de 70, quando foi construída a sede do Jornal da Manhã, a gráfica funcionava a pleno vapor

Mário Salvador
Publicado em 11/01/2011 às 21:20Atualizado em 20/12/2022 às 02:12
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Na década de 70, quando foi construída a sede do Jornal da Manhã, a gráfica funcionava a pleno vapor. E do corte dos inúmeros impressos feitos pela gráfica ficavam aparas de papéis das mais variadas cores e gramaturas.

Foi pensando nessas aparas que idealizamos uma jogada de marketing bastante profícua junto à seleta clientela e assinantes do jornal: as aparas eram aproveitadas para a confecção de um bloquinho de bolso, para anotações. A capa do bloquinho estampava o novo prédio da sede, que, projetado pelo renomado arquiteto Germano Gultzgoff, fora apelidado de Igrejinha.

Na contracapa, fizemos imprimir um texto do comandante Rolim Amaro (1942-2001), empresário que fez da TAM, durante um bom tempo, a maior companhia aérea brasileira. Recebemos várias solicitações do bloquinho, não só pela utilidade dele, mas principalmente pela mensagem, que aqui transcrevemos:

        Benditos sejam meus concorrentes,

        Que me fazem levantar cedo e render mais o dia.

        Que me obrigam a ser mais atencioso, competente e correto.

        Que me fazem avivar a inteligência para melhorar a divulgação de meus produtos e serviços.

        Que me impõem a atividade, pois se não existissem, eu seria acomodado, incompetente e ultrapassado.

        Que não dizem as minhas virtudes e gritam bem alto os meus defeitos, e assim posso corrigir-me.

        Que quiseram arrebatar o meu negócio, exigindo-me grandes esforços para conservar o que tenho.

        Que me fazem ver em cada cliente um homem a quem devo servir, e não explorar, o que faz de cada um meu amigo.

        Que me fazem tratar humanamente meus colegas de trabalho, para que se sintam parte da empresa e transmitam entusiasmo.       

        Que provocaram em mim o desejo de superar-me.

        Que, por sua concorrência, me converteram em um fator de progresso e prosperidade para o meu país.

        Concorrentes, eu os saúdo...

        Que o Senhor lhes dê vida longa!

Já naquela época, os empregados ou funcionários começavam a ter tratamentos especiais e não raros empresários já os consideravam colegas de trabalho. E, em muitas empresas, era flagrante o espírito de equipe.

O respeito ao cliente já era uma norma. Cliente deve ser servido, e não explorado, afinal, cliente mal-atendido é cliente perdido.

Fica registrada a mensagem de Rolim, com votos de que ela seja valorizada ainda hoje. Clientes e funcionários antecipadamente agradecem.

(*) membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro

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