Pontificam no cenário nacional as diferentes operações realizadas com eficiência pela Polícia Federal, com suporte no Ministério Público, que têm levado...
Pontificam no cenário nacional as diferentes operações realizadas com eficiência pela Polícia Federal, com suporte no Ministério Público, que têm levado indistintamente para a cadeia empresários, altos executivos, policiais e até políticos. Gente de muito poder que, até bem recentemente, jamais se poderia imaginar atrás das grades. Esse procedimento chega a confortar o povo e a desmentir o dito popular que cadeia é feita só para três "pês": pobre, preto e prostituta. Mas, de outro lado, dá a triste impressão de que vivemos num país de corruptos, falsários e ladrões.
É preciso encontrar urgentemente o ponto de desvendamento dos casos. Entender que todos os cidadãos, pobres, ricos, religiosos, ateus, brancos, amarelos ou negros, têm os mesmos direitos e deveres legais. E que, quando não os cumprem, é justo sofrerem as penalidades da lei, aplicadas pelos órgãos de direito (Polícia, Ministério Público, Justiça e afins). É a mão do Estado fazendo prevalecer o seu "imperium".
Num regime democrático, como o do Brasil de hoje, é difícil evitar que os trabalhos policiais envolvendo figurões ganhem as manchetes e sejam tratados como verdadeiros escândalos. Mas existem posturas que merecem destaque. Mesmo diante da adversidade, o grupo Camargo Correa, por exemplo, ao ter a sua sede ocupada pelos policiais da Operação Castelo de Areia, da Polícia Federal, protestou contra o formato do trabalho, que prendeu alguns de seus colaboradores de cargo de confiança, mas reafirmou sua absoluta confiança na Justiça e prometeu colaborar com as investigações. A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), reagiu prontamente às informações de que alguém a ela ligado esteja envolvido na doação de dinheiro ilícito para partidos políticos. Os partidos citados também o fizeram, garantindo não terem recebido doações ilegais.
É difícil acreditar que a Camargo Correa, a Fiesp e tantas outras instituições de reconhecida seriedade e larga folha de serviços prestados ao Brasil e ao mundo tenham se permitido cometer crimes fiscais, eleitorais ou financeiros, como os apurados pelas operações policiais. Seria mais crível que alguém, ligado a essas instituições, com as informações estratégicas do exercício profissional, tenha quebrado as regras de confiança e praticado, em interesse próprio ou de terceiros, as delinquências hoje apuradas. Se, ao final das investigações, algo do gênero restar provado, melhor para o Brasil e para a imagem brasileira, tanto no país quanto no exterior.
O trabalho da Polícia Federal, do Ministério Público e da Justiça, sem qualquer dúvida, está conseguindo passar o Brasil a limpo. Mas precisamos evitar que seus resultados sejam utilizados política ou eleitoralmente e que corporações e instituições idôneas sejam jogadas na vala comum dos peculatários, estelionatários e ladrões. Que os autores das falcatruas sejam punidos exemplarmente, mas sejam preservadas as organizações, mesmo que tenham de passar pelo expurgo de componentes e de procedimentos incorretos. Há que se punir todos os erros, mas isso não deve, em momento algum, destruir ou macular os acertos, o trabalho e os benefícios que a atividade regular têm proporcionado à comunidade e ao progresso e credibilidade do Brasil. Fazê-lo seria o mesmo que acertar o tiro no próprio pé...
(*) dirigente da ASPOMIL