Já faz tempo, conheci em Lins um japonês, o Tanaca. Alto e forte, diferente dos outros nipônicos da área. Escuro fechado, quase negro. Ficou meu amigo por razões que não me lembro
Já faz tempo, conheci em Lins um japonês, o Tanaca. Alto e forte, diferente dos outros nipônicos da área. Escuro fechado, quase negro. Ficou meu amigo por razões que não me lembro e, assim, passamos a pescar com outros amigos no famoso Salto do Avanhandava. Tanaca era meio maluco. Gostava de pescar em cima de uma pedra que emergia lá no meio do rio. Para chegar até lá, atravessava parte do rio levando suspensa nos braços a sua tralha. Era uma correnteza. Travessia perigosa, arriscada, mas não adiantava aconselhar. O Tanaca ia até lá e nós de cá... rezando. Lembro-me do Tanaca faland “Sou catórico, né. Por isso Deus ajuda, né?”.
Temendo coisa pior, adquiri uma correntinha com uma medalha de Nossa Senhora da Medalha para que o protegesse. Pôs no pescoço, muito sorridente e agradeceu.
Um ano depois voltei a Lins e encontrei o Tanaca na rua. Me abraçou e foi logo dizend “Amureto bom, né, aquere que o senhor me deu. Ajuda pega muito pêxe. Enche baraio, né. Pescô um firote jacaria”. (Até hoje não sei que jacaria era esse...)
Tempo vai passando e vou me lembrando sempre do Tanaca e da medalhinha que virou amuleto. Tanaca embolou o meio do campo, mas tenho certeza de que Deus aceitou assim mesmo a sua devoção. Seja como for, era um sinal de fé. Se Deus só atendesse os pedidos dos teólogos, estaríamos todos fritos. O certo é que o Tanaca está vivo até hoje. Só não sei se continua bom “catórico”. Na sua simplicidade era um filho querido por Deus. Tinha o coração bom, sem maldade. Certamente ninguém ensinou pra ele que amuleto era uma coisa e medalha era coisa diferente. Se Deus fosse humano, estaria sorrindo do Tanaca. “Entra Tanaca, a casa é sua”.
Agora, o que provoca engulhos é esse tipo de religiosos que fazem da religião um instrumento para enriquecer. Imitam até títulos que não lhes pertencem. Negociantes sem consciência, viram bispos e mulheres se transformam em “bispas”, recheando suas Bíblias com notas de dólar.
Religião hoje está perdendo seu sentido de coisa séria. Virou uma espécie de supermercado. A pessoa vai passando pelas gôndolas e escolhendo apenas o que lhe interessa, apenas o que lhe parece coonestar seu comportamento. Há poucos dias, um ilustríssimo senhor confessava-me suas convicções: “Sou católico, mas a meu modo”. Jesus deixou-nos um recado bem claro. “Seja o vosso sim, sim; seja o vosso não, não”. Não posso ser filho a meu modo, nem pai a meu modo. Não posso ser médico a meu modo, nem padre, nem pastor. Há um modo certo, correto, ético para os papéis que desempenhamos na comunidade. É sábia a afirmação de Hamlet: “To be or not to be, that´s the question” (Ser ou não ser, é este o problema).
Lembro-me do conselho do Dr. Alceu Amoroso Lima: “Quando tomar sua decisão consciente e responsável, que ela seja definitiva e seja você honesto com ela”.