POLÍTICA

Ministério Público abre inquérito contra organizadores de motociata liderada por Bolsonaro

Agência Estado
Publicado em 15/06/2021 às 07:27Atualizado em 18/12/2022 às 14:39
Compartilhar

O Ministério Público de São Paulo instaurou inquérito para investigar se os organizadores da manifestação de motociclistas a favor do governo Jair Bolsonaro, realizada na capital paulista no último sábado, 12, devem ser responsabilizados pelo descumprimento de normas sanitárias para enfrentamento da pandemia em vigor no Estado. A investigação pode subsidiar a proposição de uma ação civil pública contra as lideranças.

A portaria que formalizou a abertura do inquérito foi assinada nesta segunda-feira, 14, pelo promotor Arthur Pinto Filho. Segundo ele, o grupo descumpriu o decreto estadual que obriga o uso de máscaras em locais públicos e deu 'péssimo exemplo à sociedade'.

"Busca-se, com o presente inquérito civil, identificar as lideranças que descumpriram normas sanitárias, qualificá-las, dar oportunidade para que, se desejarem, se manifestem nos autos, para que, ao final, não havendo Termo de Ajustamento de Conduta, sejam responsabilizadas por dano moral e social coletivo por meio de ação civil pública", escreveu.

Uma cópia da portaria foi encaminhada ao Ministério Público Federal, que tem a atribuição para investigar autoridades com foro privilegiado, para que os procuradores decidam se a conduta do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) também deve ser apurada.

"O objeto deste procedimento fica, portanto, adstrito às lideranças que não têm foro por prerrogativa de função e que, além de descumprirem o decreto estadual suso mencionado, deram péssimo exemplo à sociedade", diz um trecho da portaria.

O governo de São Paulo chegou a multar Bolsonaro em R$ 552,71 por violação a regra sanitária, pelo não uso de máscara enquanto participou da manifestação de motociclistas. Ao final do ato, o presidente fez um discurso em um caminhão de som em que reforçou oposição aos procedimentos recomendados pelos cientistas para evitar a disseminação do novo coronavírus.

Multa a Bolsonaro, se não for paga, pode gerar apreensão, avalia advogado

O advogado Guilherme Amorim, especialista em direito público e sócio do escritório Rubens Naves Santos Jr. Advogados, avalia que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), caso não pague a multa emitida pelo governo do Estado de São Paulo neste sábado (12) nem recorra da decisão, estaria sujeito a ter seu nome inscrito na dívida ativa do Estado. Em última hipótese, a falta de pagamento pode levar à apreensão de bens para satisfazer a dívida.

"Funciona mais ou menos como uma multa de trânsito ou como ficar devendo para a Receita Federal", afirmou ao Broadcast Político. Amorim explica que o primeiro passo é o lançamento da infração e emissão, pelos Correios, de uma notificação da multa com o valor e prazo para defesa. Caso o presidente ou demais autoridades autuadas não paguem a multa ou se defendam no prazo, esse valor é inscrito na dívida ativa do governo do Estado.

A próxima etapa seria a Procuradoria Fiscal ingressar com uma ação de execução fiscal contra o devedor, acrescentando os juros e valores acessórios à dívida. "Não pagando, esse valor vai sofrendo as suas correções até que algum bem de seguridade da pessoa, que pode ser um carro, uma moto, ou qualquer outro bem, seja localizado para satisfazer essa dívida", completa o jurista

No sábado (12), a Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo informou ter emitido uma multa - de R$ 552,71 por pessoa - a Bolsonaro e outras nove autoridades por não respeitarem as medidas sanitárias, impostas para conter a propagação do novo coronavírus no Estado, durante o passeio de moto com apoiadores na capital paulista e arredores. O evento, batizado de "Acelera para Cristo", percorreu 129 km, com início na zona norte de São Paulo (SP) e discurso de encerramento do presidente próximo ao Parque Ibirapuera, na zona sul. Durante o trajeto e o pronunciamento, Bolsonaro apareceu sem máscara.

Além do presidente, também foram multados por desrespeito às medidas os ministros de Meio Ambiente, Ricardo Salles, de Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, de Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, bem como os deputados federais Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), Carla Zambelli (PSL-SP), Cezinha de Madureira (PSD-SP), Coronel Tadeu (PSL-SP) e Hélio Lopes (PSL-SP), além do deputado estadual Gil Diniz (sem partido).

Segundo o Código Sanitário do Estado, Bolsonaro e os demais autuados têm 10 dias a partir do momento que receberem a multa para apresentar recurso e defesa, e, caso não o façam, outros 30 dias para o pagamento. Nem a Advocacia-Geral da União (AGU) nem o Palácio do Planalto, procurados pelo Broadcast Político, responderam se pretendem recorrer da autuação.

De acordo com o jurista, a multa não traz prejuízo a investigações ou sanções penais. "A conduta (do presidente) é reiterada em todas as localidades que visita e aparições públicas que faz. A ausência de uso de máscara pelo presidente da República continua constituindo crime comum, continua descumprindo regras impostas pelos órgãos públicos", afirmou Amorim, que citou o artigo do Código Penal sobre prevenção de doença contagiosa. "Nesta hipótese, se o presidente vier a ser processado ou sofrer uma ação penal pública por representação do Ministério Público, para que ele, no exercício do cargo venha a responder por processo ou ação penal comum, precisa antes haver a autorização da Câmara dos Deputados", completou.

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Logotipo JM Magazine
Logotipo JM Online
Logotipo JM Online
Logotipo JM Rádio
Logotipo Editoria & Gráfica Vitória
JM Online© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por