No dia 20 de maio de 1922 (um sábado), o jornalista de escol Moisés Augusto Santana fora vítima de atentado promovido pelo Agente Executivo (Prefeito) da cidade de Uberaba. Baleado na Redação do jornal Lavoura e Comércio, Moisés agonizou ali por mais de 24 horas e faleceu em 21/05/1922 (domingo), às 21h30. Um mês e um dia após o crime, o autor foi absolvido por ter agido, segundo consta, em “legítima defesa da honra”.
Os autos do processo, que compulsei totalmente, encontram-se arquivados na Superintendência do Arquivo Público de Uberaba. Um poema satírico, na seção “Zangarreando”, escrito por Moisés Santana e publicado no jornal Separação, foi o objeto da tragédia, que ficou marcada para sempre na história de Uberaba. Interessante é saber que no processo criminal não consta o tal poema pivô de tudo.
Poucos literatos tiveram seus nomes gravados no cenário jornalístico de Uberaba e do Brasil como ficou o de Moisés Augusto Santana. Temos esse débito impagável para com o homem extremamente culto e polivalente em todos os seus termos, dívida essa estendida a toda a sua descendência.
A imprensa perdeu em 1922 um dos maiores jornalistas que o Brasil viu nascer. Era pai de seis filhos e tinha 43 anos. O escritor Humberto Crispim Borges, em 1980, lançou o livro MOISÉS SANTANA, VIDA E OBRA, onde se pode ver o literal combatente (inclusive em Canudos) sem omitir detalhes do perfil daquele que Uberaba, vivendo tempos conturbados, tanto necessitava, mas preferiu eliminá-lo. Não por acaso, esse bárbaro episódio, ocorrido há exatos 100 anos, permanece vivo e aguça tanto as memórias jornalísticas; goiana e mineira.
Algumas curiosidades que descobri tentando montar o quebra-cabeças: Moisés desembarcou aqui com a família no dia 30/03/1922, inteirou-se da “vida uberabense” e foi baleado no dia 20/05/1922. No malfadado poema constam nomes de pessoas influentes da cidade. Entre os médicos socorristas estava Dr. Manoel Bezerra Cavalcanti, que viria ser o pai do menino Flávio Cavalcanti. Esse, anos depois, transformou-se no grande comunicador da TV brasileira. O episódio de Moisés Santana não foi o único registrado aqui em que um prefeito elimina um jornalista. A tragédia de Santana é por demais emocionante e, a meu modesto ver, pode ser narrada em filme, peça teatral, poesia, novela, etc. Ou gerar mais obras literárias.