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O sonho de Ângela

Arahilda Gomes Alves
Publicado em 12/05/2022 às 19:59Atualizado em 18/12/2022 às 22:40
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Ela sempre dizia que seu maior sonho era o de se casar, ser feliz e ter muitos filhos. Mas sua vida fora pautada de muitos namoros, noivados e casamentos. Galanteios até do presidente da República, apelidando-a de Sapoti. Getúlio era bastante sedutor e foi quem regularizou os direitos dos profissionais do ramo, gostando de receber artistas, no Catete.

Abelim nasceu em 1928, no estado do Rio. Seu pai era pastor e todos os dez filhos receberam nomes bíblicos. As chamadas músicas profanas, justamente as que, no futuro, dariam fama a Ângela, eram proibidas de ouvir e de cantar. A mãe, encarregada da prole e das regras disciplinares, punia se estas não fossem acatadas.

“Levei muita surra de minha mãe, que não queria que eu fosse cantora”.

Aos dez anos, quando dificuldades financeiras se abateram sobre o lar, as crianças foram distribuídas entre amigos e parentes. Abelim trabalhou em fábrica de tecidos; como atendente em consultório dentário, e na General Eletric, de onde foi despedida por só cantar ao invés de examinar as lâmpadas.

Com o nome de Marina Cunha, participava de vários programas de calouros e ganhava todos os prêmios.

“Ângela crescia, apesar do metro e meio de altura, revelando seu talento e originalidade.”

Desenvolveu sua carreira no Dancing Avenida, ambiente de absoluto respeito, e ganhava três mil cruzeiros mensais, fazendo com que seu pai aceitasse a carreira da filha. Quando gravou o disco “Você vive ao meu lado e eu não tenho você”, de Paulo Marques e Ari Monteiro, abandonou o estilo de Dalva de Oliveira e fez parceria com Othon Russo, tornando seu repertório com novas canções e versões com mesmo prestígio de Emilinha Borba, Marlene e Dalva de Oliveira. E, em 1954, torna-se a Rainha do Rádio.

“Babalu”, o mambo cubano de grande extensão na voz de Ângela, incorporando floreados aos estilos Yma Sumac e Dalva de Oliveira, foi marca registrada no seu repertório. Outra música que marcou foi a valsa “Mamãe”, produzindo lágrimas no Dia das Mães.

De tanto a julgarem cantora brega, em 1956, gravou música de Tom Jobim e Luiz Bonfá: “E a chuva caiu”...

Recebia 110 mil cruzeiros mensais de salários, entregando ao Imposto de Renda 130 mil cruzeiros; comprou carro importado por 810 mil cruzeiros, pagos à vista. Seu patrimônio incluía três apartamentos em Copacabana, seis lotes de terreno, um milhão de cruzeiros em joias, além de presentear sua mãe com uma casa.

A maioria de seus relacionamentos amorosos foi de aproveitadores. O último, boa-pinta, com quem se casou, porte elegante e playboy Rodolfo Valentino, no início, cuidou bem de suas finanças, mas depois se aproveitou de sua fortuna, deixando-a em situação difícil. Por fim, casa-se com Daniel, trinta anos mais novo que ela e com quem ficara casada vinte e dois anos, estabilizando sua vida. E passou a melhorar seu repertório, com autores mais modernos, como Djavan, Gonzaguinha, Cazuza, Ari Barroso, Vinícius, Dorival Caymmi, Lupicínio Rodrigues...

Atualmente, mora em São Paulo, marcando um conjunto de sucessos. Está entre as cinco melhores cantoras do Brasil (Emilinha Borba, Marlene, Dalva de Oliveira, Elizete Cardoso e Ademilde Fonseca) ...

(Baseado no livro “As Cantoras do Rádio”, de Ronaldo C. Aguiar)

Arahilda Gomes Alves

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