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Nem sítio, nem circo

Karim Abud Mauad
Publicado em 15/09/2021 às 19:33Atualizado em 18/12/2022 às 15:55
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Os últimos eventos envolvendo o dia 07/09/2021 e o dia 12/09/2021 deixaram a todos perplexos. Independente de ser ponta-direita, centroavante, ponta-esquerda e, principalmente, se você for do meio-campo, defesa ou até goleiro, estes primeiros 15 dias de setembro se superaram em trapalhadas e falta de lógica. Mesmo que organizadores e participantes não quisessem eventos para saudar a Independência pura e simples e, principalmente, que se defendesse com alguma lógica nossa democracia, ao contrário, as banalidades, bravatas e boçalidades foram a tônica. As prosas nos palanques nem de longe trataram dos nossos reais flagelos. Em outros tempos, diria que foi um espetáculo de horrores, mas hoje creio ter sido apenas um episódio eleitoral, mais um, diga-se de passagem, malsucedido. O Brasil se apequena, se encolhe perante os seus e os outros. O que se tem é o de sempre:  uma enxurrada de fake news que os apoiadores e entusiastas de ambos os lados, para ficar no mínimo dos adjetivos, tentam disseminar para atacarem inimigos imaginários. Estamos entorpecidos, o Brasil é surreal. Antigamente, dizíamos que o país não era para amadores. Será que este atual é para profissionais? Ou para delinquentes oficiais?

Eu me alinho aos que acreditaram num Brasil pujante, produtivo e que poderia sair do caos da pandemia, bem melhor, usando suas vantagens competitivas na produção de alimentos e na estrutura de vacinação. Hoje, até vemos luz no fim do túnel, mas vivemos momentos difíceis, pois, como quase ninguém desceu do palanque eleitoral desde 2014, já se foram muitas vidas nesta mesquinharia do poder pelo poder. Temos problemas do Brasil real para resolver, temos que fazer o crescimento da economia ir além do PIB e, de fato, gerar emprego e renda. Já disse aqui da nossa aversão, enquanto nação, por diagnóstico e planejamento, mas estes últimos dias nos mostraram a imensa incompetência para tratarmos a fome, a miséria, a inflação (este imposto tão perverso com as camadas mais pobres da população), a dificuldade de fazer para todos, e não apenas para alguns, advindas da insensibilidade e insensatez de nossos governantes. Chega de apenas pão e circo! Nem estado de sítio, nem picadeiro de circo.

Vejo atores de outrora, tão execrados por seus atos, se transformarem nos pseudo-heróis de hoje. Não irei “fulanizar”, mas basta ver quem andou hasteando bandeira, quem está à frente de CPI, quem foi preso e por esta prisão se tentou demonizar as instituições democráticas dos três Poderes. As imperfeições são claras, mas ainda assim são melhores do que qualquer ameaça ao direito de se expressar livremente, lembrando que liberdade de expressão pressupõe deveres e direitos. Ataques e arroubos apenas nos ridicularizam e entristecem; desnecessário arregar e arreglar. Poderíamos passar sem estas cenas de gosto amargo. Vejo ameaças à democracia por uns e à economia por outros, conforme excelente entrevista recente do economista Edmar Bacha, mas vejo mesmo são famílias, amigos de longa data, companheiros de trabalho, de entidades, de grupos de esportes, colégio, faculdade e, claro, de política se distanciando, se odiando por algo, alguém, ou alguma coisa que não vale a pena. Isto serve para qualquer um, pois até os isentos já andam sendo rotulados nas redes sociais. Os atores da política, fazendo um paralelo com o futebol, assunto que apetece os dois principais antagonistas do atual jogo político, são iguais os jogadores e treinadores, mudam de lado a qualquer momento, dependendo da proposta e da conveniência, deixando os torcedores/eleitores de queixo caído, atordoados. Creio que chegou a hora de parar de justificar o injustificável. A estratégia correta é pausar, respirar, refletir, pensar e/ou repensar e agir deixando os falsos profetas sem palanque e sem mandato. O Estado não deve ser de sítio, nem de circo. O Estado deve servir ao povo.

Vamos deixar aos que já foram o papel de casar, cuidar dos filhos, redigir cartas, comentar lutas de lendas, dirigir carro, enfim tarefas do cotidiano. Vamos juntos buscar uma alternativa melhor para todos. O que está posto está morto.

O meu estado de espírito acredita que Deus voltará a olhar por nós, mas precisamos ajudar, cada um fazendo a sua parte. Assim como na carta, faça as pazes com o amiguinho. Aí poderemos dizer em alto e bom som – Viva o Estado Brasileiro.

Karim Abud Mauad

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