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Você está sentindo alguma dor hoje?

Padre Prata
Publicado em 13/06/2021 às 07:27Atualizado em 18/12/2022 às 13:52
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Aconteceu em Ituiutaba. Tive a impressão de que ele não tinha mais de dezessete anos. Aquele garoto bem escurinho me olhava como se perguntasse se eu desejava alguma coisa. A farmácia era pequena. Duvidei daquela quase-criança. Não deve entender nada de remédios, pensei. Eu procurava um antialérgico. Qualquer um servia. Nem sei mesmo a razão que me levou a mostrar conhecimento do assunt “Quero um creme anti-histamínico”. Achei que estava falando difícil, queria mostrar ao garoto que eu estava por dentro, que não era um otário para que ele exercitasse sobre mim a arte farmacêutica da “empurroterapia”. Ele me ouviu, silenciosamente, sem pestanejar. Sua resposta foi tranquila: “O senhor prefere um creme de cetoconazol, betametazona e sulfato de neomicina ou prefere um outro qualquer?”. Jamais diria a ele que não tinha entendido nada. Para não ficar muito por baixo, pedi para ver a bula. Mostrou-me a caixinha do remédio. Lá, em letras maiúsculas: Betacortazol. Que seria isso, meu Deus? E o menino continuou: “O senhor pode levar sem receio. Os recursos laboratoriais deste produto são da mais alta qualidade. O senhor vai fazer uma aplicação tópica duas vezes ao dia. Lave antes o local”. Paguei o que me foi pedido e saí apressado, ainda a tempo de ouvir um delicado “vai com Deus”.

Mais uma vez aprendi que não se pode julgar ninguém nem pela idade, nem pela cor, nem pelas aparências. “Não julgueis e não sereis julgados.” Foi assim que nos ensinou aquele homem extraordinário chamado Jesus de Nazaré. Mas ele era ELE, curava só com sua palavra.

Mas um remediozinho faz parte da psicologia da terceira idade. Por isso é aconselhável que nos policiemos para vencer a tendência de entrar em farmácias. Pior ainda, a inclinação para comprar medicamentos sem consulta médica. Tenho um amigo que entra em transe ao ver uma farmácia.

Faz parte da psicologia do brasileiro queixar-se de um mal qualquer. Em minha mocidade, já estava contaminado pelo mal de “ter alguma coisa”. A gente sempre inventa uma macacoa qualquer. Lembro-me de minha mãe, que não ficava sem um vidro de Elixir Dória e bebia chá de losna para qualquer mal. Meu pai não ficava sem um chá de “Quebra-pedra” ou de “Couve-do-brejo”. Em compensação, minha avó Sinhá fumava charuto e meu avô não ficava sem cinco “gólos” diários. E todos viveram mais de oitenta anos. Bom mesmo era o Astrogildo Prata. Ensinava para seus ouvintes a arte do muito viver: “Só comer na banha de porco e não tomar remédio de farmácia”. Viveu 96 anos. Morreu sadio...

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