ARTICULISTAS

A Pirâmide

Ana Maria Leal Salvador Vilanova
Publicado em 05/04/2021 às 20:05Atualizado em 19/12/2022 às 04:05
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Falar de acidentes é, com frequência, arrebatador, por vezes, ingrato. Ninguém quer sofrer uma ocorrência dessas, e todo mundo acredita que, em geral, está indo bem, não precisa de conselhos. Afinal, cheguei até aqui! Algo estou fazendo bem, certo?

Difícil argumentar contra. É verdade! Isso significa que vai chegar até amanhã? Não. A experiência diz que é possível, até provável que sim. Porém, aquele pequeno ato rotineiro, em que se assume um risco que não se deveria, e que não trouxe consequência digna de nota no passado, amanhã pode ser a sua última tarefa neste mundo.

Vale a pena o risco? No dia a dia, muitas vezes, a escolha é “sim”, ainda que nem seja uma eleição consciente. Simplesmente vai-se assumindo como parte da paisagem. Expressa-se como “já faço isso há X anos, e nunca me aconteceu nada”. Quantos anos? Dez? Vinte? Trinta? Não importa. Basta um segundo para alterar o curso da história, muitas vezes irreversivelmente.

Mas, ao permitir esse ambiente de leniência com as boas práticas, constrói-se uma pirâmide, modelo proposto primeiro por Herbert William Heinrich, na década de 1930, e seguido por outros estudos ao longo dos anos. Na base, todos os atos inseguros, os que vimos e os que não vimos, sejam mais ou menos graves.

Eventualmente, alguns vão resultar em episódios, sendo os mais comuns aqueles menos complicados, resolvidos com um pequeno curativo e vida normal que segue. Menos pior seria se a pirâmide parasse nesse estágio, mas não é o caso.

Uma parcela não vai sair assim tão fácil, e alguns desafortunados vão perder dias de trabalho, com lesões variadas, ossos partidos, contusões, cortes, e outras infelicidades. Em comum? Dor, muita dor.

Pior serão aqueles que vão pagar o preço mais alto pela imprudência, seja com lesões irrecuperáveis ou com a morte. Serão menos, é verdade, o topo da pirâmide, cuja base construímos com tempo e falta de consciência.

Abril é um mês marcante para a prevenção de acidentes. No dia 28 celebra-se o Dia Mundial da Segurança e Saúde no Trabalho, data, costumeiramente, marcada por eventos em empresas, em todo o planeta. É um dia, ou semana, ou mês da Segurança, com palestras, concursos, almoços, as populares “ações de dinamização”, visando sensibilizar trabalhadores em todos os níveis, do peão ao chefe, desenvolvendo uma cultura de antecipação.

Neste mês de abril, desejo que você derrube as suas pirâmides antes que comecem a crescer e, também, que você esteja aqui por muitos anos, com saúde e celebrando a vida.

Ana Maria Leal Salvador Vilanova é engenheira civil, cinéfila, ailurófila e adepta da caminhada nórdica

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