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Pode me explicar? (*)

João Eurípedes Sabino
Publicado em 11/01/2021 às 19:41Atualizado em 18/12/2022 às 11:40
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João Eurípedes Sabino

Um menino com idade passada dos sete anos no colo do avô, após afagar aqueles cabelos prateados pelo tempo, indaga ao seu segundo herói: – Vovô, sempre ouvi do senhor que a vida nunca foi fácil e seus dias foram de luta. O senhor veio do nada? Como é que é isso? Pode me explicar?

Meu querido neto, explicar-lhe oitenta anos em alguns minutos é difícil, mas o vovô vai tentar. Esse “nada”, era a falta de oportunidades em todos os sentidos naqueles tempos. Reinava por toda parte a escassez de trabalho a não ser para usar a força e o vovô sempre achou que tinha algum talento. Algo me palpitava dentr o dia que eu tiver a oportunidade para mudar os rumos de onde eu venho, certamente mudarei o meu destino. E mudei. Ser seu avô é uma amostra disso.

Vovô, interpela o neto, conte-me alguma coisa sobre o que fez para chegar até aqui!

Meu neto, sem eu mesmo saber, parecia haver uma imantação natural e, apesar das dificuldades, duas coisas sempre fiz: 1ª) – Desde menino procurei pessoas boas para serem minhas amigas. 2ª) – Na maioria dos casos essas pessoas tinham mais idade do que eu.

E o que o senhor via nessas duas coisas? Retrucou o neto.

 É fácil descrever, disse o avô. Dos bons extrai-se ou ganha-se só bondade. Nos mais velhos há muita experiência e, se são seus amigos, vão passá-la certamente. Fazendo por merecer, pode-se aliar a bondade vinda de uns com a experiência de outros. Se tudo vier de uma única pessoa, ótimo. A afinidade nas ideias e sentimentos geram e fomentam a verdadeira amizade. É isso aí meu neto!

Vovô, e por que o senhor agradece e fala tanto sobre aqueles que o ajudaram lá... atrás? É um sinal de gratidão e aí aprendi que quanto mais gratos somos, mais merecedores nos tornamos. Ainda faço isso todos os dias. Veja numa casa, dois irmãos, um grato e o outro ingrato. Compare a vida de ambos e verá que o segundo só reclama e fica à espera de bons resultados. O primeiro trabalha e vai somando conquistas e mais conquistas. Depois dizem que ele (o grato) é de sorte.

E o destino, meu querido vovô? Beijando aquela face rosada o “vozão”, com voz arranhada, emendou algo muito seu: – Antes eu achava que o destino era escrito na pedra, entalhado como escultura. Com o tempo fui vendo-o como se fosse escrito a tinta numa folha de papel. Depois clareou-me a vista e enxerguei que a escrita era a lápis. Usando a borracha do conhecimento apaguei uns trechos e escrevi outros.

“A vida comparada a um livro, é escrita com as oportunidades que aproveitamos ou perdemos. Deus não é pai para uns e padrasto para outros. Quando temos propósitos de bem, as Leis Superiores se perfilam para nos ajudar e esse foi o meu caso”. Falou aquele avô como se estivesse pintando um quadro exemplar ao neto.

Vô, eu não sei muito e nem entendi bem o que o senhor disse, mas de tudo isso posso lhe pedir uma coisa? Até duas “netão”, disse o avô.

Vô, posso seguir o seu exemplo?          

                   (⁎) – Publicado pela primeira vez em 10/03/2000 e republicado hoje por solicitação.

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