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Olga Rodrigues: primeira jogadora trans de CS:GO do Brasil fala sobre conquistas da comunidade e representatividade

Luiz Henrique Cruvinel
Luiz Henrique Cruvinel
Publicado em 27/06/2022 às 16:20Atualizado em 18/12/2022 às 21:58
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A paulistana Olga Rodrigues, de 28 anos, roubou o foco dos holofotes dos e-Sports nas últimas semanas, com o vice-campeonato do ESL Impact, de CS:GO, em Dallas (TX), com a Furia. Primeira jogadora transexual profissional do Brasil, ela atravessou as telas dos computadores para se tornar uma referência da comunidade LGBTQIAP+ e do público feminino, que, impacientemente, lutam pelo reconhecimento e pela valorização adequada dentro e fora dos servidores.

Em entrevista exclusiva ao JMONLINE, Olga se abriu e contou sobre as dificuldades do início da carreira, os obstáculos enfrentados pelo cenário feminino e qual o peso da responsabilidade de ser um ícone da comunidade LGBTQIAP+ em tempos de descrédito e preconceitos.

Quadrigêmea, games sempre fizeram parte da infância de Olga e de seus três irmãos. Na adolescência, motivada pelos primos, que a apresentaram ao CS, passou a frequentar uma lan house para jogar online, em uma época que “competitivo” era restrito apenas a grandes organizações e nomes, prioritariamente masculinos.

“Na primeira vez que eu vi um time treinando na lan, eu ainda só jogava casual. Pensava ‘nossa, estão levando a sério isso aqui’, mas só comecei a competir CS:GO quando comprei a Steam - plataforma do jogo, em 2017. Em 2011, o cenário do CS 1.6 estava morrendo. Quando eu vi o CS:GO, pensei ‘nossa, que jogo feio’, meu computador nem rodava. Mas meus amigos me convenceram e comecei a jogar o game”, diz a jogadora.

Ela acredita que o processo de se “reencontrar” como Olga acompanhou diretamente o próprio crescimento dentro do jogo. Dos jogos tímidos, das partidas em silêncio dentro da lan, surgia, dia após dia, um talento feroz para o CS e uma personalidade excêntrica, determinada e focada. As jogadas arriscadas que rendiam suspiros nos computadores consagravam, em passos lentos, quem é e o que faz Olga Rodrigues.

Durante toda essa trajetória, inevitavelmente, o nome dela foi alçado a uma posição de representatividade. A transsexualidade passou de decisão para referência em pouco tempo, e Olga diz estar alegre por ser vista e carregar a bandeira LGBTQIAP+. “A visibilidade que me deram foi absurda. Aí comecei a ver que eu sou essa representatividade, que posso ser referência para outras pessoas. Só tenho a agradecer por me verem como um ícone. Atualmente, marcas aparecerem querendo conversar comigo, fazer ação comigo e fico muito feliz de saber que sou importante para o cenário”, declara.

Contudo, ela pondera que a condição é carregada de responsabilidade. Olga avalia que ser porta-voz de uma comunidade deste tamanho exige raciocínio rápido e, principalmente, crítico. “Muitas pessoas veem como obrigação uma minoria que está em poder falar sobre a minoria. Eu não vejo isso. Entendo a importância de falar, mas é uma responsabilidade. Você vai escolher o que fazer com essa visibilidade. Eu quero dar mais visibilidade não só para mim, mas para várias pessoas. Cada conquista que eu ganho sei que não é só para mim. Mas estou sempre de portas abertas para minorias, pessoas trans, para ajudar como for”, expõe.

Outra pauta que Olga toma frente é o cenário feminino de CS:GO. Ela enxerga o reflexo do machismo na sociedade em geral dentro dos servidores e contesta as produções de eventos voltados ao público feminino e às jogadoras.

“A gente não pode simplesmente falar ‘ah, melhorou’. Não, temos que pedir. É a nossa profissão. Trabalhamos o mesmo tanto de horas, estudamos o jogo tanto quanto, nos dedicamos a mesma coisa. Se compararmos hora/salário, estamos igual lá fora, onde homens e mulheres trabalham a mesma coisa mas recebem de maneira diferente. Mas eu também vejo as coisas boas, Dallas (ESL Impact) agora foi legal… mas não podemos parar por aí”, finaliza a jogadora.

Por fim, Olga Rodrigues dá dicas para os jovens talentos do CS:GO feminino, e aposta na preparação extra-server como diferencial na escolha do mercado atual. “Quero falar para elas entenderem o processo de evolução, onde as coisas estão melhorando. Eu falo sempre sobre sonhos. Não é só dedicação e vontade que leva para o sonho. É um tapa na cara. Não é só querer, tem que ter suporte. Vamos pegar o exemplo de um alpinista, que quer chegar no topo. Ele pode ser bom, mas se as condições climáticas não o deixarem, ele não chega ao topo, vai morrer congelado. Você tem que ir atrás de estrutura. Hoje em dia as pessoas olham para as jogadoras e pensam sobre a presença delas fora do jogo. Hoje em dia o mercado não é só dentro do servidor, se você quer se tornar uma pessoa profissional, você tem que expandir o seu foco para outras coisas. Você tem que trabalhar sua imagem porque é assim que vai ser vista e as ORGs vão querer te contratar”, aconselha. Veja a entrevista na íntegra:

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