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Filmes Sinceros

Ana Maria Leal Salvador Vilanova
Publicado em 02/08/2021 às 18:18Atualizado em 18/12/2022 às 15:16
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Faz algum tempo que as grandes premiações cinematográficas se descolaram do gosto popular. Muitas dessas são, afinal, eleições, em que membros de alguma associação votam no que entendem ser os melhores em cada categoria. No fundo, um concurso de popularidade, em que condicionantes eleitorais entram em jogo. Será mais votado o melhor? Com sorte, talvez. Nem sempre.

Por décadas, os aficionados buscavam o “melhor filme”, ou o “melhor roteiro”, ou mesmo o “melhor ator”, sabendo que desfrutariam um regalo quase espiritual ao assistir àquele desempenho. Pelo caminho, começaram a sentir algo estranho.

Profissionais muito competentes no mundo do entretenimento passaram a pregar certos modos de vida ou valores específicos, numa tentativa de conversão capciosa. Nós, os espectadores, relevamos um bocado, tão emocionalmente envolvidos estávamos nas histórias. A sutileza inicial foi se dissolvendo numa embriaguez autoritária e, por fim, entramos para ver um filme, mas levamos com um panfleto no nariz.

Não passou despercebido, também, o movimento concertado com outras manifestações culturais, sociais e até políticas. Só queríamos ver um filme e viver em paz, mas querem nos convencer de que a realidade é opcional.

Aguentamos muito, até que começamos a desacreditar da publicidade que quase nos obrigava a ir ao cinema ver aquela peça. Engane-me uma vez, vou de boa-fé. Repita cem vezes, não me acham mais. Paramos de acorrer ao mais recente veículo de agendas estranhas, disfarçado de película.

O que fazer? Esta indústria depende de espectadores afluindo de modo constante, comprando bilhetes e sustentando o negócio. Duas alternativas se mostraram claras. Voltar-se a outros mercados e investir em conteúdo mais palatável.

As consequências implacáveis chegaram. Os tais mercados são volúveis e vêm com condicionantes inaceitáveis. E o conhecimento e a competência para desenvolver conteúdos honestos se perderam em algum ponto, junto com a alma.

Hoje é mais difícil encontrar filmes sinceros, mas eles estão lá. Apenas custa-nos mais encontrá-los no meio do ruído.

Ana Maria Leal Salvador Vilanova

Engenheira civil, cinéfila, ailurófila e adepta da caminhada nórdica

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