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COVID convida: por encontros de reflexão, consolo e cuidado

Nossa realidade galopa e grita. Cada vez mais tecnologia, cada vez mais acesso material

Sérgio Henrique Marçal
Publicado em 21/03/2020 às 11:03Atualizado em 18/12/2022 às 05:05
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Nossa realidade galopa e grita. Cada vez mais tecnologia, cada vez mais acesso material. Mesmo assim, cada vez mais distância. Voos longos cruzam países, continentes, mas entre idas e vindas permanece a sensação de não se chegar a lugar nenhum. Abismos não se transformam em alicerces. Tocas escuras mantêm mentes hibernadas em vazio e solidão. 

Isolamento escolhido, consciente e inconsciente. Competição, vazio, solidão. Sede de ter coisas, cada vez mais descartáveis. Modelos mudam freneticamente: muda o carro, o celular, a coleção da estação, o design. Envelhecemos sem percepção e consciência das produções, ou não, de vida em nossas vidas. Autômatos, cumpridores de tarefas sem sentido, com eus esvaziados.

A borda dessa vida grita e aponta: julgamentos sem intenção de construção, opiniões que produzem dissidências de eus ensimesmados, cascas que escondem desamparo, sentimento de negligência. Adultos aparentemente implacáveis, exigentes, astutos, escondem crianças feridas e com sensação de desamparo e negligência levadas para a vida.

Diante do cenário, COVID convida para revisão. Reencontro. Valores. Solidariedade, empatia, cuidado, afetividade.

A mudança esperada é a mudança de cada um. Não existe mágica. Fazer negação e demais defesas não mais resolve. O impulso para sair da procrastinação expulsa inexoravelmente da zona de conforto.

É preciso aprender com o sofrimento e reconhecer a tessitura idêntica que nos une. Divisões, dissidências, achismos, guetos, egoísmos, abismos, não resolverão o imperativo do reencontro humano consigo mesmo e com o outro, entendendo que o outro sou eu e que a desgraça do outro pode estar longe, mas isso não me livra de que ela chegue a mim.

COVID convida e ensina a perceber que não se despreze a interdependência humana e que apenas a solidariedade, a empatia, afetividade e cuidado nos salvarão das pandemias e pandemônios que ocorrem todos os dias, dentro e fora de cada um de nós.

COVID convida por fim e sem fim a acreditar e amar, a não adoecer ainda mais miseravelmente, pois, como o bom Freud nos alertava, “quem ama sofre, quem não ama adoece”. Assim, que lembremos de amar e cuidar das mais diferentes, belas e sutis maneiras. 

(*) Psicólogo, neuropsicólogo

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