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Os Intocáveis

O que me espanta no Brasil é a distância entre o entendimento do povo e as medidas tomadas...

Márcia Moreno Campos
Publicado em 20/08/2017 às 12:16Atualizado em 16/12/2022 às 11:07
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O que me espanta no Brasil é a distância entre o entendimento do povo e as medidas tomadas para beneficiar ou prejudicar esse próprio povo. As pessoas contestam ou aplaudem apenas aquelas de efeito imediato, como presenciamos com o aumento da gasolina na bomba. Nesse caso, formou-se um cordão de indignados que se rebelaram não contra o governo, que aumentou o imposto sobre combustíveis, mas sim contra os donos de postos, tão vítimas quanto todos nós. Erraram o alvo mais uma vez. E, assim, deixa-se passar incólume o verdadeiro mal que assola o país, que são os próprios políticos. Haja vista essa falsa reforma política que nada mais é do que o famoso jeitinho para não perder privilégios, trocando apenas a forma de obtenção de recursos, sem qualquer redução nos gastos. Rapidamente criaram um fundo público para financiar campanhas, na ordem de 3,6 bilhões, além de permitirem doações ocultas (medida retirada devido a pressões) e ampliação do limite de doações de pessoas físicas. Quem não tem limite são eles, que já começaram a brigar pela divisão do robusto fundo, antes mesmo de ele ser aprovado. Qualquer valor é indefensável face aos graves problemas do país.

Para conter o rombo fiscal, elevando-o em “apenas” 20 bilhões, o governo vai congelar aumento de salários de servidores civis do Executivo, aumentar a contribuição previdenciária, cortar 60 mil cargos vagos e criar um teto salarial para novos servidores. Excluídos de qualquer contenção estão o Legislativo, o Judiciário e os militares. Pode isso? Qual a parte que lhes cabe nesse sacrifício coletivo da nação?

O fato é que esse esbanjamento de dinheiro público já está trazendo sérias consequências para nós, que pagamos o pato, mas que custamos associar uma coisa à outra. Nosso orçamento doméstico só encolhe, nossas empresas estão fechando as portas ou estão no vermelho, nossos filhos desempregados, enquanto eles, alheios às nossas mazelas, insistem em se locupletar da inocência dos cidadãos alienados. Esse déficit orçamentário que parece tão distante de nós é devastador em médio prazo. Ele freia investimentos, aumenta o endividamento e quebra um país. Chamados a colaborar, estamos fazendo nossa parte, com sacrifício e luta. Mas nada se vê sobre redução de verbas de senadores, deputados e vereadores. Está passando da hora de transferir essa conta amarga para o colo dos intocáveis. O piano é pesado demais para ser carregado apenas por uma parte do país. Senhores políticos, deem o exemplo!

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