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A fala do mineiro

Há seis anos, se tanto, estava com meus irmãos, assistindo a uma partida de futebol, no Uberabão...

Padre Prata
Publicado em 02/07/2017 às 12:15Atualizado em 16/12/2022 às 12:18
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Há seis anos, se tanto, estava com meus irmãos, assistindo a uma partida de futebol, no Uberabão. (Por sinal, foi a última!) Como o jogo estava muito ruim, começamos a prestar atenção nas expressões verbais dos torcedores. Foi uma experiência que, realmente, nos trouxe divertimento e, ao mesmo tempo, levantou dentro de nós uma série de interrogações. Aquele linguajar que ouvíamos era “caipira”, “dialeto” ou o modo normal de o povão se expressar?

Com o tempo, adquirimos o hábito de tomar nota de como o povo falava. Não era mais o chamado “português”. Era um modo de falar singular. Com o tempo, conseguimos anotar mais de mil palavras e expressões do cotidiano popular. Certa vez, passando a pé por uma rua, vi uma criança sair correndo de uma casa e a mãe, logo atrás, perguntand “Dé qui cê vai, fi?” A resposta veio na mesma linha: “Vô cá vó, mãe”. Outro modo de falar ouvid “Fia, será cá vendinha tá aberta?”. “Tá qui tá, pai”. Bem, isso é caipirismo ou mineirismo? Não seria uma subcultura criada para facilitar a comunicação?

De tudo isso, tiramos algumas conclusões: 1 – O mineiro tem uma tendência inata para simplificar as coisas. Não é preguiça. Economiza palavras e sílabas de acordo com suas conveniências. É uma subcultura generalizada. 2 – O mineiro não é muito chegado ao gerúndio. Elimina o “d” automaticamente e o “o” final vira “u”. Daí, “estudanu”, “falanu”, “pescanu”, “conversanu” e assim por diante. 3 – O mineiro odeia as proparoxítonas. Por acaso, você já ouviu entre o povo alguém falar “cócegas”? “Córrego”? “Abóbora”? Será que falar “abobrinha” é errado? Errado seria “aboborinha”, além de pedante. Será que é errado falar que “lá pertim de casa tem um corguim?” 4 – O mineiro não gosta muito dos ditongos em “ei”. Ele fala “dinhero”, “mantega”, “manero”, “quejo”, “cantero” e é sempre entendido. 5 – O mineiro adora um diminutivo. É regra geral. Fala com carinho, é diferente dos outros. Alguém perguntou a um mineir “O senhor é fazendeiro?”. Veio a resposta: “Nada disso, seo moço, tenho umas terrinha lá pros lados do corguim do Buriti. Tenho lá uns pastim, criu um gadim miúdo, vai dano pro gasto”. Afinal, é errado falar assim ou é uma subcultura que deveria ser respeitada? Não me venham dizer que isso é caipirismo.

Em Curitiba, no Paraná, ouvi muitas vezes gente falando “eu ponhei”, “nós ponhemos”, “ele ponhô”. O mineiro não fala “nós ponho”, ele fala “nós põe”. Não é mais suave? Mineiro vai sempre pelo mais fácil, Não complica. Se é mais fácil falar “masstumate”, para que “massa de tomate”? Demora muito.

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