ARTICULISTAS

Maternidade realista

Caros leitores, essa é uma reflexão breve, porém, profunda, na qual gostaria que me acompanhassem...

Larissa Alves Correa
Publicado em 06/07/2019 às 13:00Atualizado em 17/12/2022 às 22:15
Compartilhar

Caros leitores, essa é uma reflexão breve, porém, profunda, na qual gostaria que me acompanhassem...

Já observaram a reação das pessoas quando veem uma mulher grávida? Especialmente do primeiro filho. Nossa! É uma quantidade de informações positivas que as futuras mães ficam convictas de que estão, sem sombra de dúvidas, indo conhecer o próprio paraíso. Só que os nove meses passam e a mulher começa a descobrir que não! Não existe esse romantismo todo.

Existem ainda muitos tabus que partem de algumas pessoas com relação à cesariana, e eu até respeito. Mas que é o parto mais "confortável" que existe, por te dar autonomia de se programar, não podemos discordar.

Enfim...

Cortam sete camadas do corpo da mulher num ato superinvasivo e que vai lhe causar muitas dores. Nasce a criança, toda cheia de líquido amniótico. Passa pelo banho, primeiras vacinas e volta para a mamãe, (afinal agora, você é tudo o que bebê precisa).

O leite ainda não desceu. As enfermeiras te dão água a cada cinco minutos, te ensinam a fazer massagem na mama e te pedem para colocar o bebê para sugar o seio mesmo assim.

Segundo elas, o organismo produz o leite de acordo com a quantidade de estímulos que recebe.

Ok, você vai colocar o bebê no peito, e ele tem a "pega errada", ele não consegue abocanhar a auréola do seio por completo, e ali é o segundo maior desafio. Muitas vezes o seio da mulher racha, e o bebê mama sangue e leite. Isso dói, e dá uma agonia que não sei até hoje colocar em palavras.

Vocês vão para casa e iniciam uma rotina, só que como ao nascer o bebê perde alguns quilinhos, até o sexto mês o bebê mama em livre demanda, de três em três horas. Durante o dia amamentar de três em três horas com o seio rachado e sangrando, já não é lá essas coisas. Mas, na madrugada, a hora que você vai pegando no melhor sono tem que acordar para amamentar, porque o relógio desperta (ou o bebê).

Ótimo! O bebê se alimenta bem do seu leite materno, está ganhando peso e tudo está indo bem. Mas você, a essa altura, já está o próprio cosplay de um zumbi. Olhos na nuca, cabelos que passam até semana sem saber o que é água (isso quando dá tempo de pentear).

Não faz mais uma refeição completa e o banho agora você toma num tempo recorde, porque tem que dar tempo de fazer comida, colocar lixo na rua, passar uma vassourinha na casa, alimentar os cachorros, lavar/passar roupas do bebê e tomar banho, enquanto o neném dorme seu soninho de quarenta minutos.

Família e amigos te visitam única e exclusivamente para dar opiniões e comparar seu filho com os filhos que eles tiveram.

E você? Tem que estar sempre com um sorriso no rosto e disposta.

Sua criança vai crescendo, as fases mudando e as dificuldades mudam também (mas nunca acabam!).

Ah, e as pessoas nunca deixam de dar palpites e muitas vezes inconvenientes. Só que, com o tempo, a nossa disposição vai acabando, e a educação vai mandando lembranças a muita gente.

Claro que muitas mulheres têm a sorte de ter uma família que ajuda ao invés de apontar, respeita o jeito de cada mãe cuidar de seu filho e pronto. Tem pai que divide tarefas domiciliares com a esposa para que não pese tanto. Mas isso é raridade! Existem ainda, em pleno século XXI homens que sequer sabem trocar uma fralda (e são muitos).

Você (mãe) hoje tem a mais absoluta certeza de que conheceu o maior amor do mundo. Mas você entendeu, que esse amor te custará muitíssimas renúncias, noites em claro e estômago doendo de fome. Percebeu que nunca havia amado antes, e se pergunta incessantemente se caso um dia tiver outro filho, conseguirá amar por igual.

Diante de tudo isso, se um dia, ouvir uma mulher que já passa dos 30 dizer que não quer ter filhos, apoie-a!

Trata-se de uma pessoa sensata que já deve ter visto o sofrimento de alguma mãe bem próxima, e sabe que não existe nada de romântico na maternidade.

Vejo muitas pessoas torcerem o nariz quando uma mulher diz não querer filhos. Argumentam dizendo que ela vai ficar velha e sozinha, que vai se arrepender com o passar do tempo e blá-blá-blá.

Mas existem pessoas que se bastam, e essas são as mais seguras de si. Elas vivem bem em sua própria companhia e a 'solidão' não é problema para elas.

Que então, possamos ser mais compassivos das decisões do outro, até porque elas não nos cabem. E que ao ver uma mulher grávida, deixemos um pouco de vender esse "mundo de maravilhas", que não existe nem nos filmes mais.

Eu sou mãe, e eu sempre digo a quem pretende engravidar o quanto a maternidade é difícil, brinco dizendo que ter filho é treta, pois muito embora algumas pessoas ajudem, a responsabilidade maior a gente sempre toma pra si. Instinto protetor, talvez.

Ah, e não, eu não me arrependo de ser mãe e de tudo que abri mão para a maternidade, só acredito que assim como sou feliz por essa realização, existem pessoas que se sentem melhor não vivenciando uma experiência como esta, e tá tudo bem!

(*) Estudante

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Logotipo JM Magazine
Logotipo JM Online
Logotipo JM Online
Logotipo JM Rádio
Logotipo Editoria & Gráfica Vitória
JM Online© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por