ARTICULISTAS

Os desafios de voltar ao mercado de trabalho após a maternidade

Larissa Alves Correa
Publicado em 20/03/2019 às 07:22Atualizado em 17/12/2022 às 19:07
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Encontrar emprego nos dias atuais e com a crise econômica que o país está enfrentando já não é tarefa fácil. Mas, se você for mulher e tiver filhos pequenos, piorou!

Acontece que as empresas não querem contratar pessoas que não tenham 100% de disponibilidade de atuação. Não querem pensar na possibilidade de um funcionário com imprevistos – de uma febre ou aquele pediatra que conseguimos marcar um encaixe de última hora.

Não é lucrativo para a empresa ter um funcionário que “corra o risco” de precisar se ausentar numa emergência. A tal retenção de talentos femininos funciona quando a mulher mostra disposição pra largar a vida e vender a alma – abstraindo que existe um bebê ou criança requisitando o mínimo de disposição emocional de um dos pais.

Não se trata apenas de “escolher entre trabalho e maternidade”. Nunca se tratou disso. Trata-se de mostrar como é difícil retornar ao mercado dando duplo twist carpado a cada dez minutos. Trata-se, muitas vezes, da total incompreensão da família, dos colegas de trabalho e do parceiro, que olham a questão como uma simples “adaptação” entre mãe e filho.

É muito mais que isso! Existe a cobrança profissional por parte dos superiores, existe a cobrança familiar que não passa sequer um dia sem dar diversas opiniões e dizer que você está fazendo tudo errado quanto à criação de seus filhos. Tem a cobrança dos colegas de trabalho, que olham torto para você por ainda “não ter entrado em forma”, ou “não estar esteticamente aceitável”. E, além disso tudo, existe a autocobrança, quando exigimos de nós mesmos a maestria em executar cada tarefa sempre a tempo e a hora, muitas vezes fazendo mais de uma coisa ao mesmo tempo.

Então, mães, não é vergonha nenhuma não se adaptarem com facilidade ao retorno ao trabalho. Não é antiprofissional conversar com seu superior contando sua nova empreitada e dividindo seus anseios pra tentar buscar horários flexíveis ou pelo menos direitos mais justos.

Você não deve satisfações a ninguém se chegar chorando, se às vezes se sentir ausente e culpada, ou até mesmo se tentar negociar um home-office alguns dias da semana.

Se tem greve na escola, se a creche está de férias, se a criança está doente, se a babá faltou, é natural que você precise dizer, com todas as letras, que precisa se ausentar para cuidar de outro ser humano, que no caso é o seu filho.

Dá medo de ser mandada embora? Claro que dá. Mas não dá pra viver como se não houvesse outra pessoa completamente dependente. E assim como o fato de existir uma criança não pode atrapalhar seu desempenho no trabalho, o inverso não pode acontecer, é inadmissível. Claro que haverá épocas de picos no trabalho, que você precisará trabalhar até mais tarde, e nesses momentos é importante ter alguém de confiança com quem possa contar. É dolorido? É. Mas a necessidade faz a ocasião e o foco no trabalho, apesar de exaustivo, é saudável pra você, que, além de mãe, é acima de tudo mulher e precisa ter a sensação de estar preenchida, completa.

Uma vida profissional atrelada a uma vida pessoal bem resolvida dá gosto em viver, nos faz pessoas mais felizes e, consequentemente, bem-sucedidas.

Entretanto, vale lembrar que nem tudo são flores. Alguns dias serão mais difíceis e a vontade de sair correndo é grande, mas nesses momentos o recomendado é respirar fundo, beber uma água e seguir. O dia está ali, todo na sua frente, esperando que você o vença da melhor maneira possível.

Portanto, se você está fora do mercado, pleiteando vagas e lutando pelo seu espaço no mercado de trabalho, esteja ciente de todos os desafios e que discernimento, sabedoria e humildade é que levam todos a encontrar o seu lugar ao sol.

Filhos são seres que vieram para acrescentar em nossas vidas, para nos fazer seres humanos melhores e por eles somos capazes de tudo suportar. Eles não vieram para ser âncoras que nos impedem de ir em frente, crescer e buscar nossos sonhos. Sejamos exemplos positivos àqueles que nos observam a cada momento diariamente. Seremos sempre o espelho que refletirá neles.

Por isso, finalizo dizendo que as fases mudam, as dificuldades, também. A saudade e a angústia de estar longe não passam jamais. Mas, apesar de tudo, sair de casa para ganhar o pão suado de cada dia vale muito a pena.

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