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Conto de Natal

Dispensei o carrinho de compras e carreguei na mão os dois pernis de um porco supostamente caipira

Dionyzio A. M. Klavdianos
Publicado em 28/12/2018 às 20:59Atualizado em 17/12/2022 às 16:49
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Dispensei o carrinho de compras e carreguei na mão os dois pernis de um porco supostamente caipira do açougue até o carro. Mais ou menos 12 kg, contando com a metade de um lombo, pendurados no braço direito, compensados por 7 kg no esquerdo, soma da outra metade com o contrafilé da semana. 

No dia seguinte as más notícias, minha mãe condenou a autenticidade do porco, “nem fresco era, quem dirá caipira…” e o ombro direito doía, o peso da carga provavelmente afetara os ligamentos.

Quando me machuco em razão de algum esforço físico imprevisto penso na dureza que deve ser carregar, por exemplo, um saco de cimento de 50 kg, ou 42 kg como se vende agora.

Leio na Folha do dia de Natal que no Vale do Silício já há robôs preparando pizzas ou hambúrgueres no balcão de lanchonetes. O bom é que o número de empregos nos estabelecimentos não caiu, pois continuam precisando, por exemplo, de gente para assentar no lugar certo a porção a ser preparada pelo robô, fora o incremento de produtividade, que acabou demandando um staff maior de pessoas na retaguarda.

A notícia é alvissareira para a indústria da construção… penso num robô 🤖 montado em pneumáticos aproximando-se do caminhão de tijolos, esticando um braço mecânico, se autocarregando, rumando para o cremalheira e deixando a carga no pé do pedreiro, outro robô decerto. Acontece que, à exceção do operário posicionando o tijolo no lugar certo para o robô pedreiro, ou seja, cumprindo a função de quem coloca a massa para o robô pizzaiolo, não sei bem como aproveitar o exército de operários que pretensamente perderiam o emprego com a chegada dos robôs.

Quanto ao pernil comprado, embora estivesse bem temperado, de fato não era tão saboroso quanto seria se fosse de um porco caipira, que aos poucos, com o avanço da tecnologia no campo e a necessidade de se alimentar cada vez mais gente, vai se tornando espécie em extinção.

E pensar que o porco caipira irá desaparecer antes do saco de cimento de 50 kg…  

(*) Engenheiro civil formado pela UnB, diretor técnico da Construtora Itebra, presidente da Comat/Cbic e 1º vice-presidente do Sinduscon-DF

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