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Universo paralelo

Não é necessário ser um grande conhecedor de Marco Túlio Cícero ou de Marco Fábio Quintiliano para entender que Uberaba

Luciano Bitencourt
Publicado em 11/10/2019 às 22:11Atualizado em 18/12/2022 às 01:00
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Não é necessário ser um grande conhecedor de Marco Túlio Cícero ou de Marco Fábio Quintiliano para entender que Uberaba, no sentido conceitual, faz uso de uma oratória mal elaborada e de uma retórica mal constituída. Existem muitos casos que evidenciam essa premissa. Tome como exemplo a proposição que afirma ser Uberaba a cidade dos dinossauros. Se alguém tem dúvidas, basta visitar Peirópolis e admirar o fóssil do Uberabatitan ribeiroi, um gigante de 26 metros de comprimento que viveu na região há aproximadamente 80 milhões de anos. Por isso, cabe aqui o primeiro questionamento ao enunciado apresentad se Uberaba é a cidade dos dinossauros, por que o slogan é creditado a Peirópolis, que é um bairro da cidade e não um município autônomo? É bem provável que o Luiz Carlos Ribeiro, frente a seu indiscutível background científico, tenha razões paleontológicas que nenhuma razão desconheça. Porém, se buscássemos argumentos sociológicos ou políticos, é certo que o Orlando Ferreira, o Doca, ou o jornalista Luiz Gonzaga de Oliveira diriam que a administração pública municipal decidiu por “desviar” para Peirópolis as costelas do período Cretáceo encontradas nas redondezas, temendo os traumas decorrentes da antiga associação dos despautérios da cidade à quantidade de orelhas de indubrasil e de chifres de guzerá enterrados nas Sete Colinas. Até mesmo para Campos de Carvalho, esse púcaro, que não é búlgaro, não faz sentido. Aliás, Uberaba deveria estar nas principais manchetes do país e do mundo, nos trend topics das redes sociais e no último número da revista Science, devido à elogiosa realização em prol da geometria não euclidiana e da demonstração da teoria da relatividade geral. Sim, o município é um dos únicos no planeta que conseguiram estabelecer uma relação direta com a curvatura espaço-temporal. Ninguém duvida (quero dizer, tem gente que duvida) que a regressão no tempo é o fenômeno mais característico da cidade, no entanto, conseguir viajar no tempo estabelecendo a concretização de um lapso de 36 anos na elevação do município é uma conquista científica de fazer inveja a Schrödinger e Stephen Hawking. Uberaba, portanto, está prestes a se transformar num grande centro de pesquisas de física quântica. Quem precisa da hipótese do “buraco de minhoca”, um atalho entre o espaço e o tempo, quando se tem comprovada a descoberta da primeira paleotoca do mundo? É inaceitável que o caminho que leva ao Labidiosuchus amicum seja creditado a Peirópolis. Uberaba tem de assumir a sua ancestralidade calcada nos crocodilos. Que o seu aniversário de 200 anos seja o início de uma nova era científica e que, diante das novas descobertas paleontomultiversos, daqui a uma década seja possível comemorar os seus 95 milhões de anos de existência. Ciência é ciência, e não há oratória e retórica desqualificada que possa refutá-la. 

(*) Filósofo e escritor

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