ARTICULISTAS

Voar é preciso

Ani e Iná
Publicado em 06/02/2022 às 12:46Atualizado em 19/12/2022 às 00:09
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Desaprendemos com a pandemia a fazer nossas saídas com a calma e a tranquilidade de antes. Andar no “Calçadão” era algo prazeroso e não tínhamos pressa de voltar para casa. Observávamos as vitrines com calmaria, entrávamos em lojas para verificar os preços, admirar as novidades e depois íamos andar pelo centro. Tudo isso acabou. Saímos correndo e voltamos apressadas, mas mesmo assim verificamos que na nossa memória fotográfica se destaca uma casa, um prédio que nos traz uma conexão de afinidades com um lugar que nos marcou. E voamos nas emoções.

Passando pela igreja Catedral, que é um templo sagrado, nossa imaginação corre solta. Suas quermesses na praça ficaram gravadas. Mocinhas da paróquia e da sociedade vestidas de garçonetes pegavam os pedidos nas mesas ali colocadas, uma decoração de muito bom gosto, cercadas   de bandeirinhas e balões, com shows de artistas da cidade, gente do povo, completando as noites cheias de afetividade e glamour. Nós mesmas nos apresentamos cantando a música Uma Casa Portuguesa. Com nossos onze anos, muita confiança e sotaque português vieram nos perguntar se éramos portuguesas. Ora, pois. O fato é que não imaginaram que tínhamos sido ensaiadas pela nossa tia famosa, Heleninha Bittencourt, a voz mais bonita de Araguari e que cantou nos grandes programas de rádio e mesmo em Uberaba. Foi atração na TV, no show que Netinho, Ataliba Guaritá Neto, comandava com todo o seu estilo – O Brasil é samba... futebol e mulher –, onde nunca faltaram esses três itens! Sucesso na época! Como esquecer?! As missas da Catedral, celebradas naquela “igreja de alma”, soberba, com o padre Iron. Não sabíamos o que era mais bonito, se sua homilia ou sua boniteza, que fazia muita gente esquecer que estava na igreja para rezar e não para “babar” com a beleza do padre. E batíamos no peit “Mea-culpa, mea-culpa, mea maxima culpa”, pelos pensamentos profanos! 

Descendo o Calçadão existia a Sorveteria Linde, sucesso absoluto! Diziam que era de um senhor de Patrocínio, chamado Pedro, e se transformou em “lugar da paquera”. De longe, a rapaziada ficava de fora da lanchonete “flertando” com as meninas. O ponto de encontro da juventude!!! Ocupava toda a rua! Dependendo da hora, difícil ter uma mesa disponível. Tínhamos que chegar bem cedo. Hoje, transformou-se em uma galeria de lojas. Lembranças de um espaço de muito charme e encanto.

No centro da cidade, havia o charmoso bar da elegância! O Galo de Ouro, requintado e seleto, tornava-se um verdadeiro desfile de modas. Sempre havia uma “menina” que sobressaía. Maria Lúcia Terra Schmidt, com seus olhos de esmeralda, lindíssima, marcava presença no burburinho, muito chique, ditando moda, saias plissadas, blusas de renda que só se encontravam nas grandes lojas de BH, SP ou RJ, onde articulavam as grandes coleções. Uma turma de bom gosto frequentava aquele ambiente cheio de estilo. Nossa “musa” representa todas! 

O Hotel Metrópole, primeiro edifício de luxo e o maior de Uberaba, não ficava a desejar a nenhum outro dos grandes centros. Os ilustres artistas e políticos ali se hospedavam. Ficou gravado em nossas mentes um dia que por lá passávamos, em que um tumulto de pessoas estava recepcionando Jânio Quadros, que usava na lapela uma vassourinha, símbolo de sua campanha (varrer a sujeira do país). Todos nós fomos presenteados com esse “mimo”. O menos foi mais! Que atenção!

E o Cine Metrópole? Antes das matinês, existia uma sessão dançante! Uberaba, terra de moça bonita! Éramos crianças e, sem nos preocuparmos em entrar no cinema, assistíamos no salão ao show da seleção de músicas e à elegância dos casais, deliciando-nos no bar Buraco da Onça com balas, bombons e chicletes. Minutos privilegiados!

A memória é algo prodigioso! Quantos flashes foram vivenciados nesse espaço interno apreciando nossa cidade, toda mudada, relembrada pelos instantes felizes dessas emoções positivas, coisas que pareciam triviais e que estão fortes. Voltamos para casa em plena pandemia, mas com a certeza de que a vida sempre será a duração de momentos, algo que encontramos ao longo dela, em todos os trechos. Voar é preciso! 

Dois beijos...

Ani e Iná

gemeasanina@hotmail.com

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