ARTICULISTAS

Bate coração

Ani e Iná
Publicado em 13/01/2022 às 21:24Atualizado em 18/12/2022 às 17:49
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Escola Normal Oficial de Uberaba. E lá estávamos as duas, aos seis anos, no casarão velho, em frente ao antigo Hotel Regina, na rua Coronel Manoel Borges, iniciando a nossa vida escolar.

Relembrar a formatura da quarta série primária no pátio da escola com uma mesa grande com flores e tendo o professor Dr. José Mendonça como patrono da turma, dona Imperatriz (professora), o diretor e professor José Leôncio Ferreira do Amaral, é resgatar a parte bonita da nossa história. Papai não se continha de orgulho! Eram duas as formandas de branco, com seus vestidos rodados, enfeitados de babados e bordados! Era difícil escolher qual o modelo mais bonito. As crianças vestiam como crianças. E os meninos de camisa branca e calça preta, perfeitos! Emoções de felicidade! A festividade era debaixo das mangueiras e de árvores frondosas no chão de terra, com folhas, um cenário de encantamento vivenciado hoje com as belas fotos perfeitas (apesar dos anos), clicadas por João Schroden Jr.

Hino Nacional, crianças na leitura de textos, dramatizações, já nessa época nos apresentávamos como poetisas, sob os olhares atentos dos coleguinhas: Luiz Próspero Neto, José Victor Aragão, Regis Goulart Botelho, Vicente e muitos outros, que se perderam na memória.

Finalmente, em 10 de março de 1959, a escola transferiu-se para o atual prédio projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer, situado a rua Padre Leandro, 121, bairro Estados Unidos, e passou a se chamar Escola Normal Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco, ou simplesmente “Castelo Branco”. Realizamos o Ginásio na “Escola Modelo”, onde ministravam aulas de Inglês, Francês, Ensino Religioso, Moral e Cívica, Trabalhos Manuais, Desenho, Música e as matérias convencionais, com um “time” de professores que não ficava a desejar a nenhuma escola particular. Cada um com seu estilo, a figura do professor ou professora era tida como sagrada. As famílias atribuíam a eles total confiança.

Era uma escola mista, de meninos e meninas. À tarde, o professor e diretor Leôncio fazia questão de voltarmos para suas aulas de Latim: Veni, vidi, vici (Vim, vi, venci); Vincit omnia veritas (A verdade vence tudo).

Recordamos uma vez que o professor Leôncio repetiu uma só lição onze vezes e passou adiante somente quando toda a turma aprendeu. Educador extremamente dedicado. Depois da aula, ele convocava os meninos a capinar os matos do pátio da escola. Sem reclamações!

Seguimos... e iniciamos o Curso Normal, que era exclusivo para as meninas. Ser professora não era nossa única opção, mas corria em nossas veias a arte de educar. Bem pequenas, brincávamos com as bonecas e bonecos como nossos alunos. No Magistério, uma figura se destacou no meio de excelentes professores, o acadêmico Dr. José Mendonça. Austero, nos seus dois metros, de uma afetuosidade jamais vista em outro professor ou professora, nunca faltou a uma só aula!

O professor Luiz Deroma, responsável pela disciplina de Metodologia da Educação do Ensino Primário e Prática de Ensino, nos deu três conselhos no discurso da formatura, que seguimos durante todo o nosso trabalho de educadoras.

“Agora vocês são minhas colegas!

Nunca levem um problema seu para a sala de aula!

No final do ano, joguem seus “planos de aula” fora. Rasguem! No outro ano, vocês têm que inovar! Procurar coisas novas!

Vocês têm que saber a hora de parar de trabalhar! Mas até hoje eu não sei!”

Deroma lecionou até adoecer, só assim parou.

Rendemos nossa homenagem ao nosso querido professor José Leôncio Ferreira do Amaral, que foi injustiçado e afastado de sua amada escola.

O coração bate forte ao nos lembrarmos do “missionário”, que marcou nossas vidas e deixou mensagens que nunca se apagam de nossas mentes. Professor Leôncio fez com que nós, alunos, nos sentíssemos especiais e pessoas capazes de alcançar nossos sonhos.

Escola Normal Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco. Nosso coração bate forte porque nela aprendemos a palavra liberdade! A escolher nossos próprios caminhos! Tomar as rédeas de nossas vidas!

E que sigamos livres pela vida. Livres!

Dois beijos...

Ani e Iná

 

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