ARTICULISTAS

Perdas e danos

Ani e Iná
Publicado em 17/08/2021 às 19:31Atualizado em 18/12/2022 às 15:44
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Outro dia, foi em Uberaba!... 

Na noite do dia 10 de julho de 2021, a bela casa situada na rua Segismundo Mendes com a Alaor Prata queimava em chamas.

Que tristeza profunda! Sufoca o coração! O único desejo é sair rápido do lugar, pois assusta, mas às vezes costuma ser também o lugar da culpa. 

Muitos anos atrás, aprendíamos uma técnica antiga de pintura provençal em madeira que só a grande artista e artesã Dona Mirtes Bruno ensinava em seu atelier, que ficava em frente a esta casa, cheia de detalhes de uma época neoclássica.

Em especial, quando se comemoram 200 anos de Uberaba, poucos casarões, casas e casebres ficaram para mostrar a história e a imponência de uma época gloriosa e acabaram virando cinzas ou pó. Vão ficar apenas na memória e alguns eternizados por meio de registros fotográficos.

Quem se lembra do bar do Lázaro Caixeta ou Lazinho, na rua Manoel Prata com a rua José de Alencar? Churrasquinho na calçada, amigos sentados em caixotes, mas a conversa corria solta. Sempre cheio, era uma “mercearia” com o melhor churrasquinho no final da tarde. Espetinho de linguiça e de todos os tipos de carne. Tinha de tudo que uma “roda” de amigos deseja: cachaça das boas, cerveja gelada, prosa animada, além de muito afeto e o aconchego entre os amigos que lá frequentavam. Era o verdadeiro “Clube do Bolinha”. Mulheres nunca estavam por lá e as poucas vezes que entramos naquele “casebre” foi para comprar fogos de artifício, bombinhas, traques, busca-pé, fósforo de estrelinhas. Lázaro era um lorde. 

O imóvel estava em péssimo estado de conservação devido ao tempo e aos materiais empregados na construção. Os esteios que sustentavam a casa, comprometidos por infiltração; as portas, portais e janelas de madeira, com cupim; o telhado, cedendo. Não tinha como preservá-lo e lá se foi um pedaço da história de Uberaba. 

E a bela casa de Markito? O casarão com estilo e charme próprio, localizado na rua Barão da Ponte Alta, 177, esquina com a Conde Prados. Devido ao seu péssimo estado de conservação, foi deliberada, por unanimidade, pelo Conselho de Patrimônio Histórico e Artístico de Uberaba (Conphau), a demolição da casa que pertenceu ao famoso estilista. Suas paredes imponentes foram caindo, sendo possível ver o material usado na época: tijolos rebocados, pedras tapiocangas e vigas fortes. Vizinhos disseram que foi triste ver a máquina demolir a casa do grande morador ilustre e de seus pais, Sr. Jaques e dona Maria; de sua irmã Mônica Cecília, que muito marcaram aquele pedaço com suas novenas e carinho por todos.

Alguém se lembra do palacete de Afrânio Machado Borges, situado na rua São Sebastião?  Quem um dia subiu as escadas que iam para o jardim nunca mais se esqueceu das grandes árvores e do aquário com peixes, que anestesiavam os olhos pela beleza do lugar. Um visual incrível, que ficou na memória e se perdeu na vida da cidade. 

O casarão Notre Dame de Paris, pertencente à família Riccioppo, na Praça Rui Barbosa? Nele havia uma placa avisando que fora a primeira casa construída em Uberaba pelo Major Eustáquio, o fundador de nossa cidade. Ali funcionou durante vários anos a “Notre Dame de Paris”, famosa loja na região central, que foi demolida no início da década de 80. “Aquelas vitrines encantadoras!...”

Foram muitos prédios destruídos, alguns estão tombados e preservados, mostrando uma Uberaba, escrevendo e preservando a nossa identidade cultural.

Uma história bem contada guarda o mesmo afago de um abraço apertado. Não é para menos: durante essa rica celebração de contar e escutar, uma colcha de emoções é tecida. Assim é a vida desses casarões, casas, casebres do nosso patrimônio cultural.

Outro dia, foi em São Paulo!...

Na noite de quinta-feira, dia 29 de julho, um incêndio destruiu as estruturas do galpão da Cinemateca Brasileira, atingindo um dos acervos de Glauber Rocha e de outros grandes cineastas. O prédio estava em situação de abandono e sem manutenção. Com isso, parte da história do cinema padeceu. Que indiferença pela arte! Pela cultura!

Quantas perdas! Quantos danos! 

Dois beijos...

Ani e Iná 

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