ARTICULISTAS

Os embalos de sábado à noite

Ani e Iná
Publicado em 22/07/2021 às 18:53Atualizado em 19/12/2022 às 02:45
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“A Prefeitura libera festas com restrições.”

Alguma coisa saiu da ordem. 

Sábado (10), fomos surpreendidos com uma aglomeração, dupla sertaneja, bebidas alcoólicas, sem máscaras, “sem restrições”, contrariando o decreto, simplesmente para comemorar o aniversário do cinquentão governador, com seus “figurões” do mundo político e jurídico, que escolheu a sua fazenda, em Uberaba, para “os embalos de sábado à noite”. “Alguém”, esperamos, vai pagar essa conta. 

Quem não assistiu ao clássico do cinema Saturday Night Fever, tendo John Travolta, com seus 23 aninhos na época, e Olívia Newton, um sucesso americano filmado no Brooklyn, em Nova York?

Foi justamente nessa época que as manifestações culturais estavam presentes em Uberaba, em um clima de nostalgia, através de seus diretórios e universidades, marcando um tempo de diversão garantida na cena noturna: Medicina (Centro Acadêmico Gaspar Vianna); Direito (Diretório Acadêmico Leopoldino de Oliveira); Engenharia (Centro Acadêmico Avelino Inácio de Oliveira); Odontologia (Centro Acadêmico Mário Palmério); a Fafi e outros bem atuantes.

Assim como no WhatsApp, onde as pessoas se reúnem em grupos com o objetivo de compartilhar ideias e informações, os centros acadêmicos tinham como objetivo unir pessoas com projetos em comum. Havia uma ideologia, convicções políticas e religiosas.   

Nesses centros acadêmicos surgiu a parte social, em que os universitários se reuniam para “bailar”. Intitulavam-se MED, CAIO, CAMP, DALO, GAGV....

O presidente do Centro Acadêmico Gaspar Vianna era o Dr. Pedro Elias Miziara Filho (Pedrinho) e a sede social funcionava na Praça Rui Barbosa. A MED tinha suas portas abertas para os acadêmicos de medicina e era exigida uma carteirinha para frequentadores. As “meninas” tinham passe livre. Não precisava de terno e gravata, mas os pré-médicos caprichavam no visual e mantinham uma postura mais conservadora. Eram sábados de puro encantamento! Muitos namoros que começaram na MED terminaram em casamento. 

Ambiente de respeito e música boa, estudantes de outros locais, e o “mi-mi-mi” corria à solta. Muitos tinham namoradas em suas cidades e, com isso, davam “chá de cadeira” nas moças mais charmosas do pedaço, o que não acontecia no DALO, pois ninguém ficava sentado. Os moços eram muito afoitos e nem começava uma sequência musical e, de longe, eles já faziam sinal para a próxima dança. 

O DALO era mais uma boate ao som de boleros, meia-luz, clima romântico, rostos colados, olhos fechados, que faziam perder a noção do tempo e do espaço. Para esquentar mais o “agito”, contratavam os Mug Stone, uma banda uberabense, sucesso nacional, ousados, vestiam saias escocesas. Puratransgressão!  

O CAIO, dos acadêmicos de engenharia, tendo como presidente o popular “Zé da Égua”, José Eduardo Rodrigues da Cunha, era outro espaço que acontecia madrugada adentro, sob efeito das luzes estroboscópicas, perfeitas para os embalos de sábado, muita dança, drinques exclusivos e uma turma elegante e cheia de estilo!

Outra balada que ficava lotada de gente bonita era o CAMP!  

É preciso lembrar também que se formou um campo cultural que nos permitiu a transgressão vinculada à ideia da contracultura. Uberaba tem um passado glorioso, que marcou fatos importantes devido a esses Centros e Diretórios na política e na sociedade.

E os que não eram acadêmicos? Os adolescentes? No sábado pegavam suas bicicletas, lambretas, carros (sem permissão dos pais, enquanto estes dormiam) e se arriscavam nas estradas de chão e iam para Campo Florido, Frutal, Igarapava, conhecidas por cidades de “meninas bonitas”. Lá chegavam e iam direto para o salão dançar, sob a “mira dos pais” e mantendo distância das beldades, mesmo que em seus braços... A animação era tanta que, quando não tinham “carona” para voltar, dormiam na praça. Um sono angelical!

Essa transgressão do governador de Brasília – irresponsabilidade social – é um ato desgovernado de puro egoísmo? Uma volta ao passado? Uma maneira de flanar? Para ele... nada mais do que “os embalos de sábado à noite”!   

Dois beijos

Ani e Iná

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